01 de outubro de 2016 | N° 18649
MARTHA MEDEIROS
FATOR UAU
O que impede o avanço de algumas iniciativas é a ausência do fator uau e está dito, nada a acrescentar. Estava assistindo pela tevê uma matéria sobre o legado que a Olimpíada de Londres deixou em 2012, quando me deparei com uma expressão que explica muita coisa que acontece na vida da gente. Eles citaram certos prédios ingleses que prometiam ter vida útil depois dos Jogos, mas que se transformaram em elefantes brancos porque careciam do que os britânicos chamam de Fator Uau.
Fator uau? Que poder de síntese. Duas palavrinhas, sendo que uma delas nem palavra é, e sim uma força de expressão, uma onomatopeia, sei lá: como se classifica “uau” dentro da gramática?
O que importa é que me valeu por inúmeras sessões de terapia, eu que já nem faço terapia. O que impede o avanço de algumas iniciativas é a ausência do fator uau e está dito, nada a acrescentar. Nem precisaria continuar com essa reflexão, mas como tenho uma coluna para preencher, continuarei, pegue uma carona comigo se interessar.
Você conhece uma pessoa simpática, inteligente, enfim, com os atributos básicos para motivar você a tomar ao menos um café com ela. E aí a relação de amor ou de amizade se inicia, corre tudo bem, mas você não consegue levar adiante por muito tempo e seus amigos não entendem a razão de você ter desistido tão cedo. O que aconteceu?
Não aconteceu nada. Justamente isso. Nada. Faltou o fator uau, o encantamento diante do sorriso do outro, de suas histórias, de seu jeito. Faltou a palpitação diante da promessa de um novo encontro, faltou contar no relógio quantas horas faltavam para revê-la, faltou a sensação de ter em mãos um bilhete premiado, faltou o fascínio. O indispensável fascínio.
Você confere, gosta, mas não pretende repetir a experiência. Quantas vezes já passamos por isso, e não falo apenas sobre encontros pessoais, mas também de visitas a cidades, idas a restaurantes, leitura de livros.
Você lê um autor e pensa: ok, não foi um tempo perdido. Mas não correrá até a livraria para adquirir todos os títulos dele que encontrar.
Você conhece Berna e pensa: ok, bela cidade. Mas não volta à capital suíça como já voltou, ou pensa em voltar, a Paris, Istambul, Marrakesh.
Você jantou em diversos locais uma única vez e nunca mais. A comida estava ruim? Não exatamente. O ambiente era bonito? Bonitinho. Animado? Mais ou menos. O que aconteceu? Nada.
Ao contrário da garotada aventureira que se empolga com tudo e tem tempo de sobra para construir seu repertório, você não tem mais tanta vida pela frente para desperdiçar com o que não excita, não surpreende, não deixa você entusiasmado de verdade. Se é para ser meia-boca, mais vale deixar pra lá e dedicar-se a seus prazeres confirmados. Ok, bela cidade. Ok, jantar agradável. Ok, consegui me manter acordado durante a conversa. Mas ok é ok. Não é uau.
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