27 de outubro de 2016 | N° 18671
DAVID COIMBRA
Mando boa notícia para o verão
Li, num site de notícias, que a Alessandra Ambrósio estava “vendo o mar” em Malibu. Havia uma foto dela fazendo bem isso: sentada na areia da praia, de costas para a câmera, dentro de um mínimo biquíni, debaixo de um máximo chapéu, ereta como uma monja hindu, fitando as ondas azuis do Oceano Pacífico.
Examinei a foto por algum tempo. Depois, percorri o resto da notícia. Contava que Alessandra Ambrósio estava... vendo o mar em Malibu. E só. Um diamante do minimalismo, como a poesia de Dorival Caymmi, que cantava:
“O mar, quando quebra na praia, é bonito, é bonito...”
Não é uma redonda verdade? O mar, quando quebra na praia, o que é? É bonito. Não precisa dizer mais nada. Assim a notícia da Ambrósio. Está tudo ali. Uma bela mulher, de biquíni e chapéu, olhando o mar de Malibu. Um poema em forma de notícia.
Há gente que diz que o jornalismo deveria dar mais informações positivas. Concordo. A matéria da Ambrósio, inclusive, me fez bem. Fiquei pensando naquilo: ela e o mar, o mar e ela. Chegava a ouvir o rumorejar das ondas. É bom saber que, em alguma parte, há mulheres olhando o mar. Tira a urgência do mundo.
Poderíamos dar outras manchetes reconfortantes aos leitores. Tipo:
“As folhas dos ipês estão amarelas em Porto Alegre e as dos carvalhos estão vermelhas na Nova Inglaterra”.
Ou: “Crianças brincam toda a tarde na praça”.
Ou ainda: “Menino dá drible da levantadinha em pelada no Alim Pedro”.
Ou, por fim: “Amigos fazem churrasco para ver os jogos da Dupla na Copa do Brasil”.
Ainda estão acontecendo coisas agradáveis no mundo, só não damos importância a elas.
Vou exercer meu papel de jornalista do Bem.
Vou dar uma notícia positiva.
Vem sob a editoria “Tendências”. Vamos lá:
Já reparei que muitas modas que surgem nos Estados Unidos estendem-se América abaixo e chegam vigorosas ao Brasil. Em geral, a coisa começa no verão americano e, dois meses depois, torna-se viral no verão brasileiro. Você lembra do verão do balde de gelo? Aquilo começou aqui em Boston e contaminou famosos e subfamosos de todo o Brasil. Pois era algo bom, não? Alertava para o combate a uma doença grave, e tudo mais.
Agora, neste verão americano, que, para minha tristeza, já se foi, sabe o que grassou entre as adolescentes e mulheres jovens?
O spandex.
O spandex é um shortinho realmente minúsculo, que as jogadoras de vôlei do Brasil usam. É feito de tecido elástico, lycra, suponho, e emprega tecnologia especial para soerguer o derrière das moças. As meninas daqui vestem-no mesmo nas festas. Diria que principalmente nas festas.
Um americano amigo meu, inclusive, tem uma filha que está na high school, o equivalente ao segundo grau. Ela ia a uma festa da escola, arrumou-se toda e entrou em um spandex sumário. eu amigo se escandalizou:
– What??? E avisou que, daquele jeito, ela não iria. A garota fez o que fazem as garotas dessa idade: pediu ajuda à mãe. Que aconselhou:
– Bota saia por cima. Lá, você tira.
Foi o que ela fez. O pai a deixou na festa e voltou para casa espantado. Disse à mulher:
– Sabe que todas estavam de spandex, menos a nossa filhinha?
A mulher sorriu em silêncio e em silêncio ficou. É assim que elas são.
Prepare-se, portanto: o spandex deve estar estourando no verão brasileiro. Imagino que seja boa notícia. Se você não for um pai muito exigente.
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