29 de outubro de 2016 | N° 18673
DAVID COIMBRA
Você não terá de votar em mim
Se alguém perguntar a qualquer porto-alegrense:
– Afinal, o que é Melo?
Ele responderá de pronto:
– É quinze!
Agora, se você propuser a charada:
– Marque o quê?
Ele completará:
– Marque... zan!
O horário eleitoral tem esses primores da técnica de propaganda de repetição. Mas não fica só nisso. Os candidatos também precisam se autoelogiar e apontar os defeitos dos adversários. É essa exigência que me impediria de ser candidato. Nem tanto porque minha legendária humildade me faria sentir o constrangimento da exaltação de TODAS as qualidades que tenho, mas por causa dos defeitos. Seria muito fácil aos adversários achar e apontar os meus defeitos. Imagine a chateação.
Já tem muita gente que me critica por diletantismo, não vou querer uma equipe inteira me criticando por profissão. Não, jamais serei candidato. Não adianta insistir, PT.
Nos Estados Unidos é pior
Isso de criticar o adversário. Você pode achar que é baixaria e tudo mais, mas é porque não assiste à propaganda eleitoral nos Estados Unidos. Não estou nem falando da disputa entre Trump e Hillary, que assombra os americanos pela virulência. Estou falando dos candidatos a cargos minoritários, como senador.
Aqui não existe propaganda gratuita. É tudo regiamente pago. E eles pagam para desancar os adversários. Não é uma crítica dissimulada. É direta e violenta, como um tapa. No Brasil, os candidatos costumam fazer observações laterais a respeito dos concorrentes. Tipo: “Tem candidato aí que diz que...”. Aqui, não. Aqui, eles botam a foto do oponente, listam as críticas e dizem claramente: “Não vote no Fulano”.
Talvez seja uma campanha menos cínica, mas certamente é mais agressiva. Você ficaria escandalizado.
A pomadinha
Contei sobre os milagres da pomadinha cambojana e as pessoas se mobilizaram. Muitos me escreveram a respeito, o que só comprova que torcicolos são mais populares do que a Anitta.
Rita, a amiga da Marcinha que adquiriu a pomadinha lá no Camboja, enviou-me um e-mail dando mais pistas. Reproduzo-o:
“Quanto talento e quanta inspiração pra falar do bálsamo do Camboja.
Diz pra Márcia que, assim que terminar, ela deve colocar o potinho de enfeite na mesinha de cabeceira dela.
Esse potinho, assim como o bálsamo, é feito artesanalmente por mulheres que vivem na área rural de Siem Reap, cidade do Camboja onde estive.
Vou te dar uma dica para as tuas dores musculares: vai a uma farmácia normal e compra um bálsamo chamado TIGER BALM.
Na CVS tem com certeza, pois já comprei em uma filial de NY. O TIGER BALM é importado da Tailândia e é bem similar ao bálsamo que dei pra Márcia.
O TIGER BALM é vendido em toda a Ásia e na Índia. É um clássico da massagem. É um potinho bem pequeno”.
Bem. Obedeci e já comprei meu Tiger Balm. Ainda não usei. Espero não precisar. De toda maneira, aí vai a foto da pomadinha que as benditas mulheres de Siem Reap fazem com suas próprias mãos santas. Coloquei o pote ao lado de um livro sobre o Bob Dylan para você ter ideia do tamanho.
Jim e o Nobel
Certo, por que um livro sobre Dylan? Evidentemente, para homenageá-lo pelo Prêmio Nobel de Literatura e para me gabar por minhas façanhas econômicas: comprei esse livro por um único dólar!
Aliás, já escrevi sobre meu vizinho Jim, que é fanático pelo Bob Dylan. Ele só usa camisetas com estampa do Bob Dylan, as paredes da casa dele são todas forradas com fotos e quadros do Bob Dylan e ele já foi a mais de 150 shows do Bob Dylan. Claro que pensei nele quando o Bob Dylan ganhou o prêmio.
No dia do anúncio da Academia Sueca, passei pelo Jim e o cumprimentei:
– Congrats, Jim!
Ele agradeceu:
– Está todo mundo me cumprimentando pelo prêmio. Estou tão feliz...
Pelo velho e bom Jim, espero que Dylan seja sensato e dê ao Nobel o valor que merece.
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