26 de outubro de 2016 | N° 18670
ARTIGOS - FERNANDA MELCHIONNA*
NÃO É SÓ POR 20%, É PELAS MULHERES!
Felizmente, depois de muita luta das mulheres, hoje o machismo é motivo de constrangimento para alguns homens. Nem por isso, alguns discursos deixam de sê-lo.
Após a aprovação da emenda, de minha autoria, que é uma proposta de estímulo para o aumento de motoristas mulheres nos aplicativos de transporte individual privado, visando atingir a marca de 20% do total, de forma progressiva, fiquei absolutamente surpresa com alguns argumentos. Frases estapafúrdias e machistas do tipo “vai lavar louça”, ignoro. Mas os argumentos sérios sobre sua efetividade devem ser debatidos.
Infelizmente, vivemos em uma sociedade extremamente machista em que as mulheres ainda recebem 30% a menos que os homens para os mesmos serviços segundo o Dieese, e muitas vezes são preteridas de vagas de trabalho por serem mães. Somos assediadas em várias esferas de socialização. Não só assediadas, mas muitas vezes estupradas. Não é raro estarmos nas ruas e ao ouvir passos e ver que é outra de nós, sentirmos alívio.
A emenda é parte da tentativa de nos permitir ser conduzidas por outra de nós. Com o aumento de motoristas mulheres, isso já seria mais fácil. Entretanto, o ideal seria nos próprios aplicativos ter a possibilidade de uma mulher previamente cadastrada chamar uma motorista. Fiz o mesmo projeto para os táxis, não consigo achar normal que uma cidade com 53% de mulheres tenha menos de 2% de condutoras. Infelizmente, vetada parcialmente, mas valerá para as próximas licitações. A ampla maioria dos trabalhadores dos aplicativos e táxis são respeitosos, mas queremos o direito de escolha.
O argumento de que gerará desemprego não é verdadeiro, pois o percentual deve ser atingido progressivamente. As mudanças não se dão do dia para a noite, mas é preciso começá-las! As mulheres no mundo inteiro têm se levantado por mais direitos, contra o feminicídio e a cultura do estupro. A luta Ni Una Menos, na Argentina, já se espalhou pela América Latina. Ao contrário do que querem muitos que me ofenderam, não voltaremos para casa. Como cantamos nos atos, “Nem recatadas e nem do lar, estamos na rua para lutar”.
*Vereadora em Porto Alegre (PSOL)
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