25 de outubro de 2016 | N° 18669 CARPINEJAR
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Cafezinho
Café é emoção. Café é a lembrança dos melhores dias da convivência com os pais e irmãos, é herdar hábitos, é carregar princípios. Os dias mais duros de qualquer vida tiveram o consolo de um café. Os dias mais alegres de qualquer vida tiveram a recompensa de um café.
No gole de um café, existe uma correnteza de cenas de amizade, de ternura, de conselhos, de apoio e de juramentos.
Café lembra receber visita, casa cheia, sobremesa. Café estende o tempo para um pouquinho mais tarde. Café engana os horários, os prazos, os compromissos. Ainda mais se é um cafezinho. Ele se faz de pequeno e inofensivo para deixar as emoções ainda maiores.
Ninguém é capaz de negar um cafezinho. A oferta, o carinho, a amizade de um cafezinho. O cafezinho é como um abraço, é como um aperto de mão, não se diz não. É um crime dizer não. É uma ofensa dizer não. Oferecer cafezinho é avisar: eu gosto de você. Oferecer cafezinho é avisar: eu fui com a sua cara.
O cafezinho é sempre sinal de que a conversa vai continuar, de que o almoço não acabou, de que ainda é cedo para se despedir. O cafezinho é a saideira dos amigos à luz do sol, a saideira dos sóbrios.
Já a cafeteira faz barulho porque chama a fome. Tem o apito de uma chaleira dentro de si para chamar a fome. O café chama bolacha maria. Quem não foi criança para mergulhar a imensa bolacha no café? O café chama pão aquecido. Quem não foi adolescente para sujar a asa da xícara com manteiga? O café chama chocolate. Quem não se apaixonou para dar o pequeno biscoito – mesmo louco para comer – para a sua namorada?
O primeiro encontro não será um chope, um cinema, uma balada, um jantar, mas um café: “Vamos tomar um café?”. O convite é despretensioso e não assusta, é um convite entre a amizade e a sedução, entre a educação e o envolvimento.
Tudo pode acontecer quando se toma um café juntos: casamento começa com o café, filhos têm a sua linha de tempo iniciada com o café.
O café é a porta das primeiras palavras. É a janela das primeiras juras. É o primeiro passo da boca para o beijo. Quantos firmaram uma relação com o sabor de café nos lábios? Não o sabor de quem está sonhando, o sabor de quem finalmente acordou para a vida de alguém.
A intimidade surge ao descobrir-se o modo como cada um pede o seu café. Com leite, curto, longo, forte, fraco. É a primeira informação que se descobre do outro e que se prolonga pela vida inteira.
Casais que se amam medem o tempo de convivência por colherinhas. Um sabe do outro exatamente quantas colheres de açúcar precisa. Ou quantas gotas de adoçante. Eu reverencio o amor quando a esposa serve ao marido e o marido serve à esposa e ambos não perguntam quantas colheres ou gotas pôr. Conhecem de cor.
Eu reverencio a rotina, que nunca é repetir o que não se gosta, mas repetir todo o dia o que se gosta muito.
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