quarta-feira, 26 de outubro de 2016



26 de outubro de 2016 | N° 18670 
MARTHA MEDEIROS

É por aqui?


Tinha um compromisso no bairro Bom Jesus, região de Porto Alegre que frequento quase nunca. Deram-me o endereço e uma pista de onde a casa ficava, o resto era comigo. Não uso GPS, mas, se sobrevivi até aqui sem ele, não seria agora que iria me perder. Me perdi.

Não deveria ter sido complicado, a rua é uma travessa da Protásio Alves, avenida bem conhecida da cidade. Mas existe outra coisa bem conhecida na cidade: a ausência de placas indicativas nas esquinas. Você precisa entrar na Rua das Camélias: como faz se não tem sinalização? Nem na Rua Nazaré, nem na Santa Isabel, nem na Jerusalém, nem na Rua Páscoa. Ou você é um intuitivo, ou pergunta. Assaltado pela dúvida já está, agora é torcer para não ser assaltado por um transeunte.

Citei o bairro Bom Jesus porque foi ali que passei por esta situação, mas vale para toda a Capital – placa é algo que às vezes tem em uma esquina e na outra não tem. E tudo bem.

Tudo bem pra quem? Certamente não para motoristas de táxi. Não para turistas. Não para quem está buscando um endereço longe de casa. Não para quem não vive preso a aplicativos.

Viajo bastante, e entre tantas coisas que despertam minha admiração está a sinalização urbana das demais metrópoles. Placas padronizadas em cada esquina. E em bom estado. Como é que conseguem? Deve custar uma fortuna e exigir alta tecnologia, imagino.

Porto Alegre já teve, um dia, esse luxo. Em algum ano remoto, foram colocadas placas azuis com letras brancas sinalizando cada logradouro – em postes e fachadas, e algumas até em árvores, muito bucólico. Mas a cidade cresceu. Alguns prédios foram demolidos. Postes caíram. As placas das árvores foram arrancadas por alguma ventania ou levadas por um colecionador. E a reposição foi de 0%. Não é prioritário.

Não espero que Melo ou Marchezan encontrem a solução para esse problema em seus primeiros meses de governo, eles têm medidas bem mais sérias a tomar a fim de melhorar a vida dos porto-alegrenses (acabar com os celulares nos presídios, por exemplo – aliás, uma questão: as celas possuem tomadas para que os aparelhos sejam recarregados?). Depois de o novo prefeito tratar o assunto segurança com a seriedade e rigidez que merece, espero que sobre um tempinho para essa reivindicação que parece menor, uma bobagem.

Placas de sinalização, que elitismo! Pode ser, mas não custa lembrar que a ausência de sinalização, queira ou não, sinaliza do mesmo jeito: para o descaso e o provincianismo.

Depois de dar carona para uma senhora que caminhava pelas redondezas e que foi muito prestativa, encontrei a rua desejada. Só ainda não encontrei resposta aceitável para tanto relaxamento.

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