13 de outubro de 2016 | N° 18659
L. F. VERISSIMO
Ninguém ganhou
O maior vencedor nas recentes eleições municipais, maior até do que o Suplicy, foi – como disse o Tarso Genro – ninguém. A soma dos votos nulos e brancos, portanto para ninguém, foi maior do que o total de votos válidos, e a tal mensagem das urnas foi a de desprezo pela classe política. Algumas evidências afloraram em meio ao desencanto geral. O PT pagou pelos seus pecados e perdeu força em todo o país. Ganharam força os evangélicos e os bolsonaros.
Mas nada significou tanto quanto a votação do ninguém. Que não deve ser festejada: o que há no ar é mais do que uma revolta, é uma clara desesperança com o processo eleitoral e fastio com a democracia. Desmoralizada a política, nos sobra o quê? O silêncio das urnas foi um grito de alerta.
Trump x Hillary foi uma luta de um interminável round. Comentaristas americanos discutem quem foi melhor no “counter punch” – em linguagem do boxe, o contragolpe a um golpe recebido. No quesito, ganhou o Trump, que mais de uma vez atingiu Hillary com um comentário por baixo da sua guarda, mas o consenso geral é de que Hillary ganhou por pontos.
Na Europa, fala-se no fim da austeridade, que sacrificou muita gente em nome da responsabilidade fiscal, um outro nome para irresponsabilidade social, durante anos. Saiu uma matéria a respeito num recente New York Times. Tem gente achando que chegou a hora de relaxar e investir em remédios para o desemprego e a pobreza, em vez de seguir a receita do capital financeiro, que não funcionou. Quer dizer, na Europa está acabando o que no Brasil de Temer está começando.
O fim da austeridade não resolve o grande problema do que fazer com os imigrantes que invadem a Europa, fugindo da guerra e da fome. Uma reação à invasão tem sido o crescimento de partidos de direita e de candidatos que, como Trump nos Estados Unidos, pregam o fechamento de fronteiras e a discriminação de imigrantes, principalmente muçulmanos. Trump pode vencer as eleições americanas, partidos de direita podem tomar o poder em muitos países da Europa, e no Brasil não se sabe o que fará o ninguém quando vencer o seu silêncio ominoso.
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