18 de outubro de 2016 | N° 18663
ELEIÇÕES 2016
MORTE DE COORDENADOR ABALA CAMPANHA
RESPONSÁVEL PELO PLANO DE GOVERNO de Melo, Plínio Zalewski foi encontrado morto na sede do PMDB em momento de acirramento da disputa
No momento em que a disputa pela prefeitura da Capital ganhava tons inéditos de beligerância, a morte do coordenador do plano de governo da campanha de Sebastião Melo (PMDB), Plínio Alexandre Zalewski Vargas, cobriu de luto o segundo turno da eleição. O corpo do peemedebista foi encontrado ontem à tarde, na sede do diretório municipal do partido, na Avenida João Pessoa. Tão logo a morte foi confirmada, ambas as candidaturas de segundo turno comunicaram a suspensão das atividades eleitorais por 24 horas. A propaganda eleitoral no rádio e na TV também foi suspensa até as 18h de hoje.
Aos 53 anos, casado e pai de três filhas – de sete, 12 e 23 anos –, Zalewski era um dos principais estrategistas do comitê peemedebista. Segundo colegas de partido, ele estava desaparecido desde o final de semana. No domingo, por volta das 13h30min, teria telefonado para a mulher, Luciana, avisando que estava indo almoçar em casa, mas, desde então, não foi mais visto. No início da tarde de ontem, um assessor da campanha encontrou o corpo em um banheiro nos fundos do prédio.
Até o final de setembro, Zalewski era funcionário da Assembleia, de onde pediu exoneração. O início da militância política começou no PT, passou pelo PPS e estava no PMDB. Ex-secretário da Justiça no governo Yeda Crusius (PSDB), o cientista político Fernando Schüler conheceu Zalewski nos anos 1980, quando ambos militavam no PT.
– Plínio era um intelectual sofisticadíssimo, buscava novos horizontes e tinha uma relação muito intensa com Porto Alegre. Nunca foi um radical e sempre separou a vida pessoal da política – comentou Schüler.
Segundo a Polícia Civil, o corpo apresentava cortes no pescoço e havia um bilhete próximo, que ficou ilegível por causa do sangue e será submetido à perícia. Preliminarmente, a avaliação é de que a morte teria ocorrido na noite de domingo. A hipótese mais provável, segundo o delegado Paulo Grillo, diretor do Departamento de Homicídios, é de suicídio. O enterro será hoje, às 14h30min, no Cemitério Ecumênico João XXIII.
PREOCUPAÇÃO COM NÍVEL DE AGRESSIVIDADE
Nos últimos dias, Zalewski vinha apresentando sinais de estresse. Por vezes, parecia perturbado e abatido diante da virulência da campanha na Capital, relatam amigos.
– Ele sempre foi defensor do diálogo, do respeito entre as pessoas, mesmo aquelas com visões diferentes. Estava muito arrasado com a dimensão que essa disputa política criou – diz a amiga Jandira Feijó.
O coordenador do plano de governo de Melo era alvo de três ações judiciais da campanha de Nelson Marchezan Júnior (PSDB). Numa delas, o Tribunal Regional Eleitoral determinou que postagem feita por ele na internet fosse retirada de uma rede social. Além disso, um vídeo postado no YouTube questionava sua atuação na campanha do candidato do PMDB enquanto era funcionário da Assembleia (leia ao lado).
A morte ocorre em um momento nevrálgico da campanha à prefeitura da Capital. O atentado a tiros ao comitê Marchezan, na madrugada de segunda-feira (leia na página 12), e a suposta invasão de integrantes da equipe tucana à sede do PMDB, no sábado, durante cumprimento de mandado judicial, deram contornos violentos à reta final do segundo turno. Foi Zalewski quem abriu as portas do prédio, na Rua Riachuelo, Centro Histórico, aos oficiais de Justiça.
A agressividade se refletia nos discursos dos dois candidatos na propaganda eleitoral e na Justiça Eleitoral, com pelo menos 10 ações ajuizadas pelos dois adversários – oito de autoria de Marchezan e duas de Melo.
Amigo de Zalewski, Melo foi à sede do partido, onde fez um pronunciamento logo após a retirada do corpo. Visivelmente abalado e chorando, disse que a memória do companheiro nunca será esquecida:
– Lamento profundamente, porque a política sempre foi sinônimo de paz, e vou continuar neste caminho.
Ao lado de peemedebistas históricos, como o ex-senador Pedro Simon e o deputado estadual Ibsen Pinheiro, o candidato disse viver um dia de “muita dor”, por conta da perda do “companheiro que concebeu o projeto quando Fogaça foi eleito”.
*Colaborou Cleidi Pereira
TRAJETÓRIA
PLÍNIO ZALEWSKI CARREIRA POLÍTICA
Com origem política no PT, migrou para o PMDB em 1998. Em 2012, concorreu a vereador defendendo financiamento exclusivamente por doações de pessoas físicas pela internet, mas teve dificuldades para implantar o sistema. Com 565 votos, não se elegeu. Atuou na prefeitura, no governo do Estado e na Assembleia. Também foi filiado ao PPS.
FAMÍLIA
Era casado com Luciane Pujol e tinha três filhas, de sete, 12 e 23 anos.
NÍVEL DE TENSÃO EM ALTA NA DISPUTA
30 DE SETEMBRO
-Dois dias antes do primeiro turno, foram realizadas buscas na sede de uma empresa prestadora de serviços para a campanha de Nelson Marchezan Júnior (PSDB) e de uma candidata a vereadora. Havia a suspeita de que, no endereço, estaria funcionando um comitê irregular e seriam utilizados equipamentos da Procempa. No mesmo dia, o Ministério Público Eleitoral pediu arquivamento.
11 DE OUTUBRO
-A retomada da propaganda eleitoral no rádio e na TV aumentou a virulência. Derrotado no primeiro turno, Melo partiu para o confronto aberto com Marchezan. A campanha peemedebista acusou o adversário de falsificar sua ficha de filiação partidária, de demagogia e de representar coligação com 280 CCs na prefeitura.
15 DE OUTUBRO
-No sábado, foi realizada averiguação judicial em uma sede municipal do PMDB. Segundo denúncia do PSDB, no local funcionaria um comitê irregular, não declarado à Justiça eleitoral. O fato gerou troca de acusações.
-Em nota, Melo acusa integrantes da campanha de Marchezan de ter entrado de forma ilegal no diretório, no centro da Capital, durante a diligência. Uma advogada e um fotógrafo teriam feito imagens internas sem permissão e mexido em documentos.
-Plínio Zalewski, morto ontem, foi quem recebeu o oficial de Justiça. Segundo o auto de verificação da ação, o coordenador afirmou que o local seria “destinado a instalação e funcionamento da assessoria de comunicação da Coligação Abraçando Porto Alegre”, da candidatura de Melo.
-No Facebook, Marchezan postou: “Descoberto comitê não declarado de Sebastião Melo. Mais uma vez, a velha política se mostra na eleição de Porto Alegre. A gente sabia que seria assim. (...) E o que não é declarado é pago com recursos que também não são declarados. Deixamos para vocês pensarem de onde vem esse dinheiro!”
ONTEM
-Na madrugada, o comitê de campanha de Marchezan, na Avenida Ipiranga, foi alvo de disparos. O local foi atingido por mais de 10 tiros em dois ataques.
-Coordenador do plano de governo da campanha de Sebastião Melo, Plínio Zalewski foi encontrado morto na sede do partido, na Cidade Baixa. Zalewski era alvo de três queixas-crime impetradas pelo comitê de campanha de Marchezan. A hipótese é de suicídio.
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