Jaime Cimenti
O fantástico antes do fantástico
É na infância, com a leitura de contos de fadas ou de mitos, que geralmente começa o nosso fascínio pela literatura fantástica. O volume Antologia Fantástica da Literatura Antiga (Ateliê Editorial, 264 páginas, R$ 65,00), organizado pelo diplomata e escritor Marcelo Cid, contempla trechos relativamente curtos que podem ser entendidos como literatura fantástica, um gênero que só passa a ter esse nome no século XX, mas é encontrado ao longo das narrativas históricas ou poéticas, ou mesmo em obras filosóficas de séculos passados.
A antologia reúne cerca de 300 histórias provenientes da antiguidade greco-latina num arco de tempo que começa no século VIII a.C., com excertos de Homero, e se estende até o século VI d.C., com textos poéticos mas também obras de Filosofia, História, Teologia e Medicina (quem diria?), são narrativas breves, dotadas não só de algum evento extraordinário, mas também de certa incômoda estranheza, que só faz aguçar a curiosidade dos leitores.
"O fantástico em literatura tem certa dose de pathos, ausente no maravilhoso. Remete ao insólito, ao onírico, ao inconsistente, e funciona especialmente bem quando o autor diminui o estranhamento do que narra e aumenta sua credibilidade ou sua conexão emocional com o leitor, por meio de artifícios que este logo aprende a reconhecer", explica o organizador Cid.
Quem tiver predileção pelo gênero fantástico se verá brindado não com poucas histórias do seu gosto, sem o trabalho de encontrá-las dispersas entre outras de gênero diverso ou perdidas em livros inalcançáveis. Como anfitriões educados, elas nos convidam gentilmente à leitura, mas aos convidados é difícil parar de ler e ir embora.
O certo é que, mesmo hoje, em nossa civilização "pós-moderna", tão tecnológica e eletrônica, com tantas facilidades de comunicação, ainda queremos ler o que não podemos ver, queremos aquelas antigas histórias contadas à beira de uma fogueira, sobre deuses, monstros, coisas mágicas e, como os leitores não têm tempo de garimpar as pepitas em livros espalhados por aí, Marcelo Cid, durante anos, fez esse trabalho para eles. Todo leitor é um aventureiro, é alguém que deseja ser seduzido. Os leitores vão reconhecer, nesta antologia, personagens que conheceram em obras modernas. Tempos e histórias se misturam. Para quem lê, como se sabe, a história da literatura é a história de suas leituras.
Portanto, na antologia, os textos que misturam sonho com realidade mostram que Jorge Luís Borges tinha razão: "cada escritor crea sus precursores", ou seja, os leitores são livres.
lançamentos
Todos querem ser Mujica (Diadorim, 160 páginas), do consagrado jornalista Moisés Mendes, com apresentações de Luis Fernando Verissimo e Denise Nunes, traz crônicas bem escritas e posições claras de quem sempre disse o que pensa e sente sobre vários temas atuais, especialmente política brasileira.
A força do tempo - Histórias de um repórter fotográfico brasileiro (Libretos, 182 páginas), de Kadão Chaves, um dos maiores profissionais do fotojornalismo no Brasil, traz centenas de fotos que mostram sua paixão pelo registro da história brasileira. Sua vida e suas aventuras fotojornalísticas são uma coisa só, em mais de 40 anos de trabalho.
O que cabe em um abraço (L&PM Editores, 214 páginas), novo livro de crônicas do médico, professor e escritor J.J.Camargo, traz histórias, reflexões, lembranças e anedotas que vão além de relações entre médicos e pacientes. Mostram a natureza humana e que é melhor ser feliz hoje que ficar esperando o amanhã.
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