terça-feira, 25 de outubro de 2016


25 de outubro de 2016 | N° 18669 
ARTIGO - DENIS LERRER ROSENFIELD*

A TEMPESTADE

A Lava-Jato leva jeito. Seu trabalho de limpeza da classe política continua intenso, não poupando nenhum partido. Para os que duvidavam ainda do seu caráter isento e suprapartidário, a prisão do ex-deputado Eduardo Cunha, antanho todo-poderoso presidente da Câmara dos Deputados, não há mais do que se render aos fatos. Só petistas empedernidos não conseguem enxergar a realidade.

Não há mostras de que a Operação Lava-Jato e os seus desdobramentos em outras operações vão amainar. Lula já é réu em três ações e, logo, será julgado e, muito provavelmente, condenado. Um símbolo se vai. Seu espelho, Eduardo Cunha, não conseguirá se livrar da prisão tão cedo, se é que há perspectiva de que isto aconteça em um futuro imediato.

O cenário político continuará agitado, tendendo a maiores turbulências. Não há céu de brigadeiro em vista. As dificuldades do atual governo, nesta área, só tendem a aumentar. Não haverá nenhuma trégua. Isto porque as delações da Odebrecht e de Eduardo Cunha provocarão outras quedas e confirmações das já havidas.

As delações da Odebrecht, capitaneadas por seu líder Emílio Odebrecht, distinguem-se de todas as outras por um fato de vital importância. Elas virão acompanhadas das provas materiais. Não serão meras alegações. Meticulosos, os seus dirigentes anotaram tudo: quem foi beneficiado, quem pagou, contas de origem e de chegada, onde, operadores e assim por diante. Será arrasador. Os diferentes partidos serão atingidos. Será um amálgama generalizado. Acertos de contas também ocorrerão.

A delação de Eduardo Cunha não terá o mesmo efeito destrutor se não vier acompanhada das provas de suas alegações, o que exige prévio acordo de delação premiada. Só se tiver algo muito novo a acrescentar, com suas respectivas provas, a sua colaboração será aceita. Contudo, o seu efeito político imediato será grande, pondo, principalmente, em questão o seu próprio partido.

Em seu primeiro vazamento, provavelmente feito por intermediário seu, tal como foi publicado pela revista Época no último final de semana, o seu alvo preferido é o grupo dos seus ex-correligionários, que, na sua perspectiva, tornaram-se “traidores”. O potencial destrutivo, aqui, consistirá em membros do atual governo e em sua base parlamentar. Indícios disso já se fazem presentes.

A inquietude da classe política só tende a aumentar. Todos estão no aguardo, como se uma tempestade estivesse prestes a irromper.

 *Professor de Filosofia

Nenhum comentário: