segunda-feira, 31 de outubro de 2016



31 de outubro de 2016 | N° 18674 
DAVID COIMBRA

O que dizem as eleições

Aeleição de Nelson Marchezan para prefeito de Porto Alegre, conjugada com os resultados das outras eleições municipais, demonstra uma realidade: o Brasil já mudou, nós é que não percebemos.

Nós, que digo, somos os profissionais das atividades que tentam compreender a sociedade, como o jornalismo e o Direito.

É natural que tenhamos surpresas periódicas com os movimentos das massas, porque o jornalismo e o Direito estão sempre atrás da sociedade, nunca à frente dela. O que não é crítica a jornalistas e juristas. É uma característica dessas profissões – o jornalismo se esforça para contar o que aconteceu e o direito se esforça para regular sobre o que está acontecendo. São profissões reflexivas, que têm o passado como matéria-prima.

Por isso mesmo, jornalistas e juristas são por natureza conservadores. A maioria dos jornalistas e dos juristas reproduz o pensamento dominante da intelectualidade de um país. Que não é, necessariamente, o pensamento da elite ou do grupo que está no poder. É o pensamento geral da intelectualidade média, e a sociedade é muitíssimo mais dinâmica do que a intelectualidade média.

Uma ilustração perfeita desse quadro foram as célebres manifestações de junho de 2013. Jornalistas e juristas ficaram perplexos, não compreendiam o que se passava nas ruas do país. Enquanto isso, a extrema-esquerda irresponsável, a partir dos famigerados black blocs, e a direita truculenta, a partir dos saudosos da ditadura, tentaram se aproveitar dos acontecimentos. Até tiveram algum ganho, mas mínimo. Não crescerão além do que já cresceram, porque estavam todos equivocados.

Há quem diga que se deu uma “guinada à direita” no país. Errado. O que há é uma saturação com a forma como o poder público e as autoridades se comportam no Brasil. As pessoas estão fartas, e isso não tem a ver com direita ou com esquerda. O PT se dissolveu nem tanto pela corrupção e muito mais por sua arrogância e seus métodos agressivos. Agora, lideranças de direita se comportam da mesma forma, na ânsia de dar o troco. Fazem tudo exatamente igual: o mesmo discurso excludente, as mesmas táticas de ataque e difamação de adversários, a mesma petulância.

Ao mesmo tempo, as ditas esquerdas não aprenderam nada. Continuam acreditando que foram vítimas de um golpe orquestrado malignamente pela direita, pelas elites brancas, pelos coxinhas, pela mídia. Como já disse, intelectuais são conservadores. São sempre os últimos a mudar.

O Brasil não está caminhando para a nova direita, nem haverá espaço para a nova esquerda. O Brasil começa a procurar a sensatez. Falta descobrir onde ela está. Escreverei mais a respeito amanhã.

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