sexta-feira, 28 de outubro de 2016



28 de outubro de 2016 | N° 18672 
NÍLSON SOUZA

DORMIÇÃO


A frase genial é do poeta Antônio Maria, e chegou até nós pela boca do colega Paulo Sant’Ana, no pretérito sempre presente de suas andanças pela nossa sala de trabalho. Numa das vezes em que se acomodou na sua poltrona favorita para ressonar e aguardar a inspiração, balbuciou:

– Se eu estiver dormindo, me deixe dormir. Se eu estiver morto, me acorde.

Fiquei tão encantado com a sacada, que imediatamente procurei na editoria de Arte o arteiro Paulo Zarif, e fiz a encomenda: um letreiro bem visível. Quando Sant’Ana acordou, o cartaz com a citação já estava colado na parede acima de sua cabeça. Conhecendo a sensibilidade do cronista atualmente em recesso para tratamento de saúde, tivemos o cuidado de selecionar também uma frase de sua autoria para colocar junto à do poeta que nasceu pernambucano e morreu carioca.

O sono é o prenúncio da morte, escreveu Shakespeare, para horror dos dorminhocos. Alguns menos encucados e mais espiritualizados acreditam que se trata de um momento de liberdade para a alma dar uma saidinha e passear por onde desejar. Materialistas convictos dizem que é apenas uma forma de descansar o corpo, já que o cérebro não para de funcionar, muitas vezes nos levando a reboque pelo mundo dos sonhos.

Nunca fui de muita dormição. Sempre preferi a madrugada para leituras e trabalhos intelectuais, pois o silêncio e o sono dos outros me facilitam a concentração. Mas já ando menos apaixonado pela insônia, principalmente depois que tomei conhecimento de um estudo do Centro de Pesquisa da Luz, de Nova York, sobre a interferência das telinhas luminosas (de celulares, tablets e computadores) no nosso ritmo circadiano, que vem a ser o nosso ritmo de sono. Segundo os cientistas, a luz emitida por esses dispositivos interfere no nosso cérebro e impede a produção do hormônio que nos faz desacelerar e dormir.

Como as pessoas que descansam bem à noite são mais resistentes a doenças e se tornam mais longevas, já ando pensando em trocar o computador pela velha máquina de escrever durante a madrugada. Aí os outros é que não vão dormir.

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