sexta-feira, 7 de outubro de 2016


07 de outubro de 2016 | N° 18654 
CLÁUDIA LAITANO

Pai patrão

Quando foi que as escolas de Ensino Médio do Rio Grande do Sul começaram a se tornar motivo de constrangimento e mácula na nossa outrora inabalável autoimagem? Em que momento termos apenas uma escola entre as cem melhores do país tornou-se a regra e não a exceção? Como Estados sem tradição de ensino de qualidade conseguiram superar suas deficiências? O que poderíamos estar fazendo e não estamos? Por quê?

Nenhuma conversa sobre educação oferece respostas fáceis e soluções simples, mas fazer a lição de casa, neste caso, é continuar perguntando. No Brasil, já sabemos que o maior de todos os problemas da educação (e o mais difícil de resolver de um dia para o outro) é a desigualdade social: das 200 melhores instituições de ensino do Rio Grande do Sul, 195 têm alunos com padrão de vida considerado alto ou muito alto. 

Comprovada a relação direta entre renda da família e desempenho dos alunos no Enem, resta celebrar os muitos exemplos de escolas de áreas pobres que, contrariando estatísticas e expectativas, enfrentam a falta de infraestrutura com a obstinação de pais, alunos e professores – e zero mérito do Estado. Sirvam suas façanhas de modelo a toda terra.

O fracasso do ensino privado no Rio Grande do Sul é um pouco mais difícil de entender. Os números frios da economia não são suficientes para explicar por que, entre as 10 escolas privadas no topo do ranking do Enem, quatro são de Fortaleza, uma de Ipatinga (interior de Minas) e outra de Teresina – a escola particular gaúcha melhor colocada aparece apenas em 231º lugar.

É preciso entender por que chegamos a esse ponto, e não por vaidade ou disputa de beleza provinciana, mas para aprender com exemplos dos outros Estados e começar, o quanto antes, a reverter uma assustadora tendência de declínio – do ruim para o ainda pior (as particulares gaúchas, no cenário nacional, tiveram resultados piores neste ano do que no ano anterior).

Uma coisa é certa: enquanto prevalecer entre nós o modelo “pai patrão”, aquele que só procura o colégio para reclamar que o professor deu notas baixas e que está menos interessado na qualidade de ensino do que no status da escola e na vida mansa do filhote, vamos continuar levando bomba.

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