11 de outubro de 2016 | N° 18657
DAVID COIMBRA
A carne de panela com aipim do Wianey
O Wianey Carlet, tanto quanto certos políticos e certas mulheres, promete, mas não cumpre.
Há mais de 10 anos, ele faz juras vãs de me convidar para um repasto em sua dacha em Viamão, onde prepararia um de meus pratos preferidos: a gauchíssima carne de panela com aipim.
Mas sou repórter, sempre serei, e nesta função aprendi que você só consegue algumas coisas sendo chato. Pois sou. Assim, cobro promessas de políticos, de mulheres e do Wianey. Ontem, quando ele participou do Timeline, exigi, no ar, que ao menos me passasse a receita da sua famosa carne de panela com aipim, iguaria com a qual, é sabido, Wianey já amoleceu os corações mais empedernidos.
Desta vez, tão pressionado foi, o Wianey cumpriu a promessa. Mandou-me a receita. Caridosamente, divido-a com os leitores, certo de que apreciarão não só o conteúdo, mas também a forma, porque os textos das correspondências que o Wianey me envia estão entre o que de melhor já foi escrito na literatura missivista nacional.
Segue o e-mail do Wianey, com observações minhas entre parênteses:
“Querido amigo
A receita que te passo tem uma condição imutável para ser sucesso: você precisa consumi-la sem qualquer indício de culpa (Eis a verdade inicial que nos ensina Wianey: a culpa deslustra o prazer).
A preparação psicológica é o primeiro passo. Você precisa se convencer de que comer uma única vezinha o aipim com carne de panela não te causará desconforto algum. Vá mais além: acredite que todos os papas italianos apreciavam este prato. E, se não bastar, repita 10 vezes que, na última ceia com os apóstolos, Cristo serviu aipim egípcio com costela de camelo na panela. Pronto, você pode começar a cozinhar. Siga o roteiro a seguir que não tem erro. É barbada. Vamos lá:
– Ponha na panela de pressão uns dois quilos de costela minga. Quanto mais dura, melhor (Aí, o segundo aprendizado relevante: é da rigidez e da dificuldade da vida que se extrai o melhor sabor).
– Acrescente meio pimentão picado. Qualquer cor serve.
– Uma cebola grande picada bem miudinho.
– Dois tomates grandes bem maduros e sem pele. Picados, óbvio.
– Dois cubos de caldo de carne (Note: nada de preconceito contra cubos de caldo de carne, isso é importante para o cozinheiro moderno).
– Duas xícaras de água.
– Feche a panela e coloque sobre fogo alto. Imagine o seu pior inimigo ardendo nas chamas do Demo. Espere meia hora e a carne estará pronta.
Em uma panela à parte, ferva o aipim com sal a gosto. Quando a sagrada raiz estiver macia, despeje a carne e o molho sobre o aipim. Deixe tudo ferver até que o molho esteja reduzido em 30%. Pode ser 35%. Ou 25%. O rango divino estará pronto para ser servido.
Ah, abra uma garrafa de bom tinto, mas não ceda à tentação de beber vinho orgânico. Tudo que faz bem à saúde é inimigo do paladar (Outra sabedoria filosófica, já revelada pelo Rei Roberto, que reclamava: “Será que tudo que eu gosto é ilegal, é imoral ou engorda?”).
Coma o que puder e lembre: dos apóstolos, apenas Judas desfrutou a última ceia e foi para o inferno. Todos os demais se fartaram de tanto comer, foram dormir, sonharam com anjos e acordaram perguntando: sobrou um bocadinho daquela carne?
É isto aí, meu guru. Faça bom proveito. Não aceito reclamações
Abraços
Wianey”
Já estou aprontando minha carne de panela com aipim. Faça você a sua e me conte como foi o ágape. Quanto ao Wianey, ele não se safou: quando eu for a Porto Alegre, ele terá de ir para a cozinha em Viamão.
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