quinta-feira, 20 de outubro de 2016



Por: Marta Sfredo
20/10/2016 - 16h27min | Atualizada em 20/10/2016 - 19h05min

Sônia Hess, ex-Dudalina: "Mais do que fazer camisas, minha mãe ensinou a arregaçar as mangas"
Desde dezembro de 2015 longe da camisaria, empresária dedica maior parte de seu tempo ao terceiro setor.

Sônia Hess, ex-Dudalina: "Mais do que fazer camisas, minha mãe ensinou a arregaçar as mangas" . Virou clichê dizer que alguém é inspirador, mas a empresária Sônia Hess, motor do sucesso da marca Dudalina, desconstrói o estereótipo. Convidada para o lançamento do Lide Mulher no Estado, sob o comando de Roberta Jalfim, a catarinense voltou a contar sua história, com novos detalhes e sem omitir capítulos menos autolouváveis nesta quinta-feira:

— Não falo inglês, o chip veio atrapalhado lá de Luiz Alves (cidade catarinense onde nasceu, a 60 quilômetros de Balneário Camboriú). Quando fui convidada para ser jurada do Cartier Women's Inniciative Awards e descobri que era todo em inglês, pedi para levar minha "sussurro translator" (a amiga aposentada Bárbara). Achei que iria ficar só um ano, estou há sete.

Desde dezembro de 2015 longe da Dudalina, comprada por dois fundos americanos e depois pela Restoque (Le Lis Blanc, John John, entre outras marcas), dedica a maior parte de seu tempo ao terceiro setor, mas segue como consultora do Warburg Pincus, um dos dois compradores da empresa da família, entre outras atividades profissionais:

— Meu sonho é fazer semana TQQ (terça, quarta e quinta), mas não consigo.

Aos 61 anos e com cinco netos, Sônia confidenciou: vai casar. Está meio difícil de explicar aos netos, brincou, mas chegou a hora.

As origens

Uma dos 16 filhos de Duda e Adelina, teve pai poeta e mãe empreendedora. Ao contar como ajudava a vender camisas, ainda criança, detalha a logística: a refeição tinha pão feito em casa e frango assado. Em uma das viagens, a noite caía quando quis voltar para casa e ouviu da mãe: "Só quando vender a última camisa".

— Mais do que fazer camisas, ela ensinou a arregaçar as mangas.

Relata que, quando a empresa já era respeitada, a mãe pedia para não detalhar o "trabalho infantil" e que batia nos filhos por não ser politicamente correto. Ela, claro, segue contando, cheia de amor pela mãe. Na mudança da família para Blumenau, trocou pela primeira vez a escola pública por uma privada, a melhor da cidade, encontrou colegas de outra classe social, e foi alvo de bullying por ser "colona de Luiz Alves, feia e mal-arrumada". Transformou em estímulo para "mudar de paradigma".

Família e empresa

Com a morte de Adelina, em 2008, o que era uma família se dividiu em 16. Sônia não esconde os conflitos com os irmãos — com alguns nem fala mais — e os pedidos para que, quando começou o assédio para vender a empresa, não contassem sobre as negociações nem aos maridos ou mulheres. Na fábrica, conta que a faxineira se espantou ao receber pela primeira vez participação nos lucros. Algum tempo depois, ao comentar o trabalho, disse à chefe que devia prestar mais atenção porque tinha gente fazendo "corpo mole".

— Ganhamos uma gestora — comenta.

Tem orgulho de ter preparado a sucessora, que hoje conduz a marca Dudalina, mas não esconde que não tinha identidade com a nova administração da empresa.

Mulheres de negócios

— Estou em várias frentes, no grupo Mulheres do Brasil, liderado pela Luiza Trajano, na Endeavor, na qual sou a única mulher do conselho, também faço parte do conselho curador da Fundação Dom Cabral, estou na Ernest Young. Quero devolver para a sociedade aquilo que aprendi. Estou em uma fase de aprendizado fantástico. Quando você está ligado 24 horas por dia a uma empresa, a agenda complica. Minha situação está muito boa porque tenho tempo para fazer palestras, contar histórias e dizer para as pessoas que é possível. A empresa está lá, espero que o legado que deixei seja respeitado, construímos uma história muito bonita. Hoje posso falar para mulheres que o network é importante, tanto que mudou minha vida. O que está faltando para as mulheres é network.

Lições fundamentais

— Minha coragem sempre foi maior do que meus medos. Sempre fui corajosa. O "não" eu sempre tive, estou à procura do sim. Isso vem muito da minha mãe, uma mulher à frente de seu tempo. Ela não aceitava "não" de primeira. Sempre tentei estar disponível. É um momento muito difícil para o Brasil, mas temos que passar por isso e surfar outra onda, como diz a Luiza (Trajano). Temos dois Brasis. O Brasil do terceiro setor é maravilhoso, sustenta o país, dá força.   

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