11 de outubro de 2016 | N° 18657
LUÍS AUGUSTO FISCHER
A FORMA DA CONVERSA
O excelente jornal digital Nexo (nexojornal.com.br) apresentou esses dias uma matéria que me fisgou na hora. Como muitas vezes faz, o diferencial eram ilustrações – em geral eles mostram muitos gráficos, mas nesse caso era planta baixa. Tratava-se da resenha de um livro de dois arquitetos, David Mulder van der Vegt e Max Cohen de Lara, chamado Parliament, quer dizer, Parlamento. O livro é um estudo sobre a forma dos parlamentos mundo afora, daí a importância de mostrar as plantas.
Sem jamais ter dedicado um segundo que fosse a qualquer raciocínio formal sobre o tema, carrego comigo uma série de contrariedades a ele associadas, especialmente nas imagens do nosso parlamento federal. Sabe aquilo? Bancadas e tal, lá na frente e acima a mesa diretora, mas poucos deputados sentados, um bololô ali na frente, muitas vezes uns dando carão e pescoção no excelentíssimo colega, ninguém prestando atenção a nada. Uma confusão lamentável, num ambiente que pode ser tudo, menos um bom lugar para discussão racional.
O livro dá notícia de formatos muito diversos para as casas legislativas. O modelo da Câmara dos Comuns, na Inglaterra, é filas de bancos paralelos, uma facção claramente diante da outra, olhos nos olhos, oposição cá, situação lá. O parlamento alemão tem forma de semicírculo, dando ares de plateia de um teatro grego. Nesses dois casos, todos ficam no mesmo nível, os deputados e a mesa diretora.
Já o congresso brasileiro... É próximo ao desenho dos parlamentos russo, chinês e norte-coreano, e essa vizinhança já dá o que pensar em matéria de tradição autoritária – e filia Oscar Niemeyer mais uma vez à vertente ditatorial. Basicamente temos uma sala de aula, com as bancadas dispostas todas de frente para a mesa, que fica acima e distante.
Só que no Brasil, digo eu, essa fantasia de sala de aula centralista e autoritária é ridicularizada, todo santo dia, a cada discussão ou votação. Bem parecido, aliás, com a sala de aula que os professores conhecemos tão bem.
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