terça-feira, 18 de outubro de 2016


18 de outubro de 2016 | N° 18663
ARTIGO | DENIS LERRER ROSENFIELD*

DISPARATE


O recente voto da delegação diplomática brasileira na Unesco, negando qualquer relação entre o judaísmo e o Monte do Templo e Jerusalém, é propriamente estarrecedor. Demonstra uma cabal ignorância da História, além de expor um total desconhecimento da Bíblia, fonte da civilização judaico-cristã. Na verdade, quem sustenta tal posição nunca se deu ao trabalho de ler o Antigo e o Novo Testamento.  

O Itamaraty terminou por se alinhar com países cujas características centrais consistem na negação dos direitos humanos e, em particular, das mulheres. Países ditatoriais, em boa parte, que menosprezam a democracia e as liberdades. Vivem da exclusão do outro e do não reconhecimento das diferenças.

Antes da criação do Estado de Israel, em 1948, o Muro das Lamentações, local sagrado para os judeus, em Jerusalém, era utilizado como latrina e lugar de depósito de animais. Os que lá dominavam tratavam os lugares sagrados judeus como excremento propriamente dito. Há fotos que, por si só, dizem tudo.

Hoje, as três religiões monoteístas – cristianismo, judaísmo e islamismo – têm livre acesso aos seus respectivos lugares santos. Inclusive, a polícia do Monte do Templo não é israelense, mas árabe, jordaniana, em um claro reconhecimento de quanto o Estado judeu preza as outras religiões. São acordos político-diplomáticos até hoje respeitados.

Do ponto de vista simbólico, tal decisão ocorreu na semana do Dia do Perdão dos Judeus, o dia mais venerado no ano. Lembre-se que a guerra do Kippur, em 1973, foi uma tentativa de destruição do Estado de Israel, aproveitando-se do recolhimento desse dia, em que a reza e a introspecção primam sobre todo o resto. Os agressores perderam militarmente e, agora, procuram um resgaste simbólico, trazendo o Brasil para esta parceria. O país caiu na armadilha.

A diplomacia petista tomou esta linha que, pelo visto, ainda perdura. Lula gabava-se de suas relações estreitas com os ditadores africanos. Seus negócios agora aparecem na Lava-Jato.

De boa hora, o ministro José Serra sinalizou que pretende corrigir esta postura, em um claro indicativo de que o Brasil não mais se alinhará à intolerância e aos que simplesmente desprezam os valores humanos e democráticos.

Não seria muito mais fácil reconhecer, em um ambiente de tolerância, a vinculação sagrada das três religiões com o Monte do Templo e Jerusalém? Por que partir para uma outra forma de destruição do Estado de Israel?

*Professor de Filosofia

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