segunda-feira, 23 de novembro de 2015


23 de novembro de 2015 | N° 18364 
DAVID COIMBRA

O projeto das trevas


Pior do que os discursos da Dilma, pior do que as desculpas do Cunha, pior do que mil Bolsonaros batendo boca com mil Wyllys, pior do que tudo isso, que é bem ruim, é o que o MEC está tentando fazer com o ensino brasileiro.

Pais, professores, alunos, coxinhas, petralhas, cristãos e muçulmanos, todos temos de nos unir contra o projeto do MEC intitulado, com pompa acadêmica, de Base Nacional Comum Curricular, o BNCC.

É evidente que se trata de um projeto de viés ideológico, mas, para combatê-lo, não podemos levar isso em consideração. Até porque muitos simpatizantes do governo concordam que o projeto é ruim. Péssimo, na verdade. Horrível.

Há questões técnicas que têm de ser destrinchadas pelos especialistas, trabalho para o Luís Augusto Fischer, para os Gonzaga, o Sergius e o Regis, para o Cláudio Moreno, para o meu amigo Sérgio Job, para tantos atentos professores que temos, civilizando o Rio Grande e o Brasil.

Isso é com eles. Atenho-me ao genérico.

Genericamente, essa é uma proposta que os intelectuais chamariam de “projeto de desconstrução”. O que se tenta desconstruir é o modelo europeu da educação brasileira. Eles querem deslocar o eixo da Roma Antiga, da Grécia clássica, da França, da Alemanha e da Inglaterra, que é onde se desenvolveu a civilização ocidental, e fazê-lo girar entre a cultura tupi-guarani e a africana profunda, onde habitam zulus, bembas, iorubás, mandingos e tútsis.

Na disciplina de história, a ideia é reduzir quase a zero o ensino de História Antiga e Medieval, além de acabar com a ordem cronológica do conteúdo. Eles querem que os jovens concentrem-se no estudo da história africana e ameríndia.

Na literatura, a ideia é a mesma: concentrar os estudos nas literaturas de língua portuguesa, africana e indígena.

Creio que bastam esses dois pontos para que os brasileiros ergam-se como um único homem e cantem, de punhos cerrados: “Às armas, cidadãos! Formai vossos batalhões! Marchemos! Marchemos! Nossa terra do sangue impuro se saciará!”

Repare que não sou contra o estudo da história americana, indígena e africana, nem contra a leitura de livros de autores africanos e indígenas, embora – admito, eu aqui, na minha ignorância – não conheça nenhum autor indígena. O que sou contra, o que todos temos de ser contra é um modelo de educação que estreite conhecimentos, em vez de ampliá-los.

Se esse projeto for aprovado, o que vai ampliar-se no Brasil são as trevas. Vamos nos afundar numa Idade Média cultural. E o pior é que nem saberemos disso, porque ninguém fará ideia do que veio a ser essa coisa de Idade Média.

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