16 de novembro de 2015 | N° 18357
NÍLSON SOUZA
Paris sorrirá outra vez
Quando estudei Educação Física, aprendi uma canção infantil que tinha como refrão os versos: “Paris se queima, se queima Paris”. Nunca me preocupei em saber a origem da cantiga, suponho que fazia referência aos bombardeios da II Guerra Mundial, quando a capital da França esteve literalmente sob fogo cerrado.
Mas aquela nunca foi a minha imagem de Paris. Sempre imaginei a cidade como as pinturas de Monet ou Renoir – surpreendente, colorida, cheia de vida. Quando tive a oportunidade de estar lá, constatei que era ainda mais bela.
Conheci Paris na Copa de 1998, por iniciativa do então diretor de Redação deste jornal que contemplou-me com uma viagem oferecida por uma fábrica de automóveis. Foi um passeio de sonho: juntamente com os demais convidados, fui recebido por uma frota de carros antigos, nos quais desfilamos pelas ruas da Cidade Luz até as margens do Sena, onde fizemos um roteiro de barco, com direito a almoço a bordo.
Embasbacado na boleia de um calhambeque centenário, ao lado de um motorista vestido com roupas do século 19, me senti um chefe de Estado vendo a população aplaudir o inusitado desfile pelas ruas de Paris. Nada podia ser mais encantador: aquela cidade magnífica, seus monumentos históricos, a Torre Eiffel, o Arco do Triunfo, Notre Dame, as pontes do Sena, os cafés com mesas nas ruas, as pessoas vivendo e se divertindo num ambiente civilizado e num cenário lindo – um quadro impressionista real do melhor da vida humana.
Na última sexta-feira, o encantamento foi quebrado por bombas, tiros e sangue. A estupidez humana não tem mesmo limites. O irônico do atentado é que ele ocorre justamente na cidade que melhor expressa e acolhe a diversidade humana, a cidade-símbolo da liberdade, da igualdade e da fraternidade.
Vi tudo com profunda dor na alma, pois a televisão, a internet e os outros meios de comunicação depositam o mundo na nossa sala e não há como fechar os olhos para a realidade. Mas a minha Paris, que é eterna, jamais será essa de pessoas amedrontadas pela violência. Recuso-me a arquivar a Paris da Sexta-feira 13 no HD do meu coração.
Paris, a verdadeira, é aquela dos quadros coloridos e do desfile de calhambeques por suas avenidas largas. É aquela do almoço a bordo no Sena, com suas margens repletas de namorados. É aquela dos cafés lotados de jovens de todas as idades.
Logo as nuvens da intolerância se dissiparão e a melhor Paris haverá de ressurgir, como dizia uma antiga marchinha de Carnaval, cantada em plena II Guerra, cujo título é o mesmo deste artigo. Não por minha vontade, mas, sim, por uma razão que os versos assinados por Osvaldo Santiago e Paulo Barbosa explicam melhor:
“Paris, já não sorris./ Nem vives mais de sonhos e amor./ Paris, choras de dor/ Ante os fuzis do invasor./ O mundo que te ama/ Que sofre ao ouvir teus soluços/ Um dia, tal como os heróis do passado/ Te irá libertar./ Paris, de novo, então,/ Teu coração terás em flor/ Cidade amor, o mundo diz:/ Serás feliz, Paris.”
A verdade é que o mundo ama Paris.
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