sexta-feira, 20 de novembro de 2015



20 de novembro de 2015 | N° 18361 
MARCOS PIANGERS

Limites


Fui surpreendido por alguns pais que me perguntaram esses dias: “Piangers, como você consegue arrancar o iPad da mão das suas filhas?”. Foi estranho ouvir isso. Primeiro, porque lá em casa não tem iPad, é tudo livro, quebra-cabeça e lego. Parecemos hippies. Segundo, porque é meio chocante ver filhos que não obedecem aos pais. Não são pais, são reféns.

As crianças que só recebem “não!” não parecem se dar muito bem na vida. Se tornam jovens revoltados, retraídos, inibidos, inseguros. Incrivelmente, as crianças que só recebem “sim!” também não se dão muito melhor. Costumam se tornar jovens que lidam mal com frustrações, querem tudo do seu jeito, desrespeitam a todos.

A forma mais garantida de ter filhos felizes e realizados é também a mais óbvia e manjada de todas: equilíbrio. Há momentos de dizer “sim!”, outros em que se deve dizer “não!”. Há dias de jogar videogame e há dias de ajudar a arrumar a casa. Há hora do banho e há a hora de ficar jogando bola até mais tarde.

Se meus filhos estão me desobedecendo sistematicamente, é hora de apertar a corda. O “não!” vai predominar por um tempo. Se estão incrivelmente comportados – isso acontece? –, é hora de relaxar. Eles ouvirão mais vezes meu “sim!”.

Existe apenas um motivo pra que tantos pais não criem seus filhos com equilíbrio: dá trabalho. É muito mais fácil ser um pai durão, que diz sempre não. É, da mesma forma, muito mais fácil ser um pai permissivo, que diz sempre sim. Você não precisa refletir: usa sempre o mesmo modo de responder a qualquer questão da missão paterna. Ou só sim, ou só não. É fácil.

De outro modo, prestar atenção na hora certa de dizer “sim” ou “não” dá um trabalhão. Você tem que prestar atenção no seu filho. “Oh, não! Tirar os olhos do celular! Oh, não! Não trabalhar até tarde! Prestar atenção no meu filho! Que desgraça”.

Dá um trabalhão saber a hora de dizer não. Tem que ter investigação. Tem que ter conversa. Tem que ter tempo junto. “Oh, meu Deus! Tempo junto?! Nãããoooo!”, alguns pais parecem gritar.

Bom, pelo menos já estão aprendendo a usar “não!” no seu vocabulário.

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