sexta-feira, 13 de novembro de 2015



13 de novembro de 2015 | N° 18354 
MARCOS PIANGERS

Coisas que acontecem nas minhas palestras


Pra quem tem alguma curiosidade sobre o que são minhas palestras, são basicamente um amontoado de coisas que entendo e outro amontoado de coisas que não entendo. Misturando os dois, fica parecendo que sei sobre tudo. Gosto de dar palestras porque é uma função bem remunerada e que inspira as pessoas. Todos saem felizes e com vontade de fazer coisas. Não sei se fazem, afinal.

Mas existem algumas coisas que acontecem em todas as minhas palestras. Acredito que aconteça em todas as palestras de todos os palestrantes do mundo, mas posso falar apenas por mim. Certamente, são coisas que acontecem em todas as minhas palestras. Há sempre uma pessoa que fala antes de mim no microfone, seja para dar as boas-vindas ao público, seja para me introduzir. 

Essa pessoa sempre fala “boa noite” duas vezes. Ao primeiro “boa noite”, o público responde com uma espécie de murmúrio. Estão todos meio tímidos. Então vem o segundo “boa noite!”, dessa vez com ênfase, como quem quer uma resposta melhor. O público diz “boa noite” mais alto, e a pessoa que fala antes de mim diz, satisfeita: “Agora sim!”.

Isso é antes da palestra. Durante as minhas palestras, sempre há alguém que chega atrasado. Para essa pessoa sempre digo: “Sempre atrasado, igual à zaga do Inter”. É uma piada que aprendi com o Duda Garbi, que entende mais de futebol do que eu. Eu não entendo de futebol e imagino que quando o Inter começar a ganhar devo trocar a piada, citando o Grêmio. Se ambos estiverem ganhando, citarei o Avaí. Terei sempre a lenta zaga do Avaí para fazer troça.

Depois das minhas palestras, digo, ao final de todas elas, sempre recebo um presente do contratante. E sempre, quase sem exceção, é uma cuia de chimarrão. Percebam: eu não tomo chimarrão. Já perguntei para o Dado Schneider, o maior palestrante gaúcho, quantas cuias de chimarrão ele já ganhou. Devem ser centenas. Ele disse que, quando não são cuias, são abridores de vinho. Sempre acompanhados de uma agenda. O Dado deve ter um cômodo apenas para cuias e agendas.

Essas são as coisas que sempre acontecem nas minhas palestras. Não sei se, agora que sabem o que sempre acontece, vão me contratar mais ou menos vezes. Só sei que, provavelmente, ganharei menos cuias daqui pra frente.

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