29 de novembro de 2015 | N° 18370
L. F. VERISSIMO
Debutantes
As três almoçavam juntas todas as terças-feiras. Amigas antigas, mesma idade (o lado ainda ensolarado dos 30), casadas, sem filhos.
Heloísa fora a última a se casar.
– E então? – quis saber a Carol. – Então o quê?
– O casamento, como vai? – Vai ótimo!
– É tudo que você imaginava? – Que pergunta, Carol! Claro que é!
A Carol parecia amarga, por alguma razão. Logo a Carol, a mais divertida das três. A que organizava as reuniões dos casais. A que cantava nas festas.
– Diz a verdade, Helô – insistiu Carol. – O Rui é tudo o que você esperava?
– É um homem maravilhoso. Eu estou felicíssima.
– Felicíssima, Helô? – Está bem. Felicíssima é exagero. Mas estamos muito bem.
A Maria Helena interveio. – Por que esse interrogatório, Carol?
– Porque eu acho que nós estamos vivendo uma mentira. Três mentiras. Nós três. Nenhum dos nossos maridos é maravilhoso. Nossas vidas não são maravilhosas. No outro dia, eu estava olhando o Edgar roncando na frente da televisão e me dei conta. Então é isso? Minha vida é isso?
– Carol – disse a Maria Helena –, o que mais você quer da sua vida? Você é uma mulher saudável, sem problemas de dinheiro, com um marido que pode não ser um galã, mas...
– Não é o Edgar. Você não entende? O Edgar roncando na frente da televisão é só um detalhe. É tudo. É o futuro que me espera. O futuro que nos espera. É a vida que nós nunca vamos ter.
– Que vida você queria, afinal, Carol?
– Quer saber? Eu queria que minha vida fosse uma comédia romântica.
– Ora, Carol... – Uma comédia romântica americana.
– Mas isso não existe, Carol. Só existe no cinema. Na vida real, ninguém...
– É isso! A vida real. Nós não fomos feitas para a vida real. Nós merecemos mais do que a vida real. Lembra do nosso baile de debutantes? Nós não estávamos lindas? A vida que nos esperava era outra, sorridente, muito diferente da vida real. A vida real não é para debutantes.
Então, Carol levantou-se e disse que iria embora.
– Mas nós ainda não pedimos o almoço! – protestou Maria Helena.
– Eu estou sem fome. E hoje sou uma péssima companhia. Até terça que vem.
Quando Carol se foi, Heloísa comentou:
– O Rui não ronca, eu acho.
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