segunda-feira, 9 de novembro de 2015



09 de novembro de 2015 | N° 18350
MOBILIDADE

TARIFA A MAIS, SEGURANÇA DE MENOS


USUÁRIOS DE TÁXIS DA CAPITAL pagam três vezes além do custo por GPS que integraria sistema com botão antipânico. Um ano depois do início da implantação, operação que promete reduzir assaltos ainda não é integral

O sistema que combina GPS e botão de pânico ainda não está em pleno funcionamento nos táxis de Porto Alegre, mesmo passado mais de um ano desde o início da implantação, mas revela um peso significativo no bolso dos usuários.

O horário de cobrança da bandeira 2 foi antecipado, em fevereiro do ano passado, sob a justificativa de financiar a instalação dos aparelhos nos veículos e melhorar a qualidade do transporte na Capital. Uma estimativa da própria EPTC indica que os clientes vêm pagando pelo menos três vezes mais do que o custo do serviço de monitoramento e de socorro eletrônico.

O período de cobrança diferenciada foi antecipado das 22h para as 20h, durante a semana, e para as 15h aos sábados – o que representa um acréscimo de 17 horas de corridas 30% mais caras por semana. Para se ter uma ideia do impacto dessa alteração, se toda a frota de 3,9 mil táxis da Capital operasse durante essas horas excedentes fazendo um número mínimo de viagens, o dinheiro a mais pago pelos clientes chegaria a cerca de R$ 20 milhões desde fevereiro até hoje. Essa projeção se baseia no estudo técnico feito pela EPTC para garantir que a antecipação do horário seria suficiente para cobrir o pagamento mensal obrigatório, devido pelos taxistas, para contar com o sistema de rastreamento. Atualmente, a mensalidade está em R$ 79,22. 

Na estimativa mais conservadora da prefeitura – pela qual cada veículo faz duas corridas por dia da semana e seis aos sábados nos períodos ampliados de bandeira 2, em viagens com média de seis quilômetros –, o ganho excedente com a mudança fica em R$ 3.031 por ano para cada táxi da cidade. Isso é cerca de três vezes mais do que o custo do GPS, que soma R$ 950 por veículo no mesmo período. No cenário de maior impacto – pelo qual o taxista faz quatro viagens nos novos horários durante a semana e oito aos sábados –, os usuários pagam R$ 5.314 a mais para cada táxi em um ano.

Até agora, os taxistas repassaram R$ 1.941.069 para uso do mecanismo, que sofreu atrasos no prazo de instalação, enfrentou problemas técnicos e ainda não oferece suporte ao acionamento do botão de pânico. Desse montante, R$ 800 mil foram para a empresa Show Tecnologia, que venceu a licitação para fornecer o sistema, e R$ 1,1 milhão ficaram com a EPTC. O secretário-adjunto da EPTC, Marcelo Soletti, argumenta que parte do recurso serve para pagar a estrutura montada pelo município para acompanhar o sistema – que inclui três servidores destacados para acompanhar o deslocamento dos carros. Mas, até agora, esse monitoramento não é feito em tempo integral e não envolve garantia de resposta da Brigada Militar pela falta de um convênio.

– Nossa intenção é qualificar o serviço. Além do GPS, a partir de dezembro vamos monitorar também o taxímetro dos veículos, o que vai permitir saber até quanto tempo cada carro fica ocioso. Com isso, poderemos estimar se são necessários mais táxis – afirma Soletti.

EPTC RECONHECE PROBLEMAS, MAS DIZ QUE JÁ TERIAM SIDO RESOLVIDOS

O sistema, porém, ainda não está em pleno funcionamento devido à falta de um acordo com a Secretaria de Segurança Pública do Estado (SSP) para definir como será operacionalizada a resposta ao botão de pânico. Por meio de nota, a SSP informou que a documentação sobre o caso está na seção de convênios da secretaria, e a formalização de como será o atendimento aos pedidos de socorro deverá ser concluída “dentro de um mês”. O presidente do Sindicato dos Taxistas de Porto Alegre, Luiz Nozari, reclama da demora para o botão de pânico entrar em operação e por supostas falhas na localização do GPS.

– Achamos o serviço importante, mas queremos algo que funcione – reclama.

A EPTC reconhece que o serviço registrou problemas, mas já teriam sido corrigidos. Casos específicos são resolvidos pontualmente, segundo Marcelo Soletti.

marcelo.gonzatto@zerohora.com.br

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