sábado, 28 de novembro de 2015


28 de novembro de 2015 | N° 18369 
CLÁUDIA LAITANO

Cronicamente anacrônicos


Antes de expressar uma opinião, aprovar uma lei, comentar notícias na rede social ou simplesmente reagir a uma novidade, seria útil contar com a ajuda de um conselheiro para assuntos de século 21 – um “facilitador”, para usar o jargão corporativo.

Pode ser aquele seu sobrinho de 18 anos que não larga o celular ou um grande especialista em qualquer assunto relevante que não tenha medo de mudar de opinião quando fatos novos insistem em alterar a realidade como a conhecíamos até aqui. O importante é incluir a dúvida e a disposição para reexaminar as próprias convicções, à luz de novas circunstâncias ou de uma mudança já perceptível do espírito da época, como exercício intelectual e ético permanente. 

Admitir que o anacronismo está mordendo nossos calcanhares o tempo todo – em casa, no trabalho, na sala de aula, na forma de fazer política ou negócios – não significa que você tem que mudar de ideia como quem troca de celular. Acostumar-se com uma certa dose de descompasso geracional, em uma época de mudanças de comportamento aceleradas pela tecnologia, talvez seja inevitável. Mas estacionar em território conhecido quando fatos novos impõem novas reações e reflexões é assinar atestado de óbito intelectual – ou de má-fé.

Não adianta, por exemplo, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, insistir em defender a candidatura do secretário que batia na ex-mulher como se gritar na beira da praia fosse salvar o afogado. Talvez até fosse possível, em outros tempos, encolher um episódio de violência doméstica até o tamanho de uma nota de rodapé biográfica. 

Mas, em 2015, vamos ser realistas, o homem está liquidado politicamente. Pode-se lamentar por reputações instantânea e injustamente destruídas, o que não parece ser o caso em questão, mas se você está preparando uma campanha política não adianta fazer de conta que a força de mobilização da internet não existe ou que a tolerância com a violência de gênero é a mesma de 10 anos atrás. Perdeu, playboy.

Tampouco adianta cerrar fileiras contra a economia compartilhada como se fosse possível remendar com durepox uma barragem prestes a estourar. O Uber vai prevalecer, com este nome ou com outro, porque representa um modelo de negócio que já venceu a batalha por corações e mentes no resto do mundo. Uma coisa é propor regulações, negociar, administrar conflitos de interesse. Outra bem diferente é tentar impedir a conversa.

Nem todas as manifestações de anacronismo e dificuldade de aceitar mudanças são tão indignas quanto espancar uma pessoa que está tentando trabalhar, mas nada como um gesto estúpido e primitivo para deixar bem claro de que lado o futuro não está.

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