sexta-feira, 27 de novembro de 2015



27 de novembro de 2015 | N° 18368 
CARLOS GERBASE

QUER CASAR COMIGO?


Quando assisti a Que Horas Ela Volta? – um filme que é, no seu todo, extremamente bem-sucedido –, uma cena me encantou tanto que imediatamente pensei: vai pra antologia das melhores cenas da história do cinema brasileiro. Às vezes, a gente pensa uma coisa durante um filme e depois esquece. Não é o caso. O momento em que Carlos, interpretado por Lourenço Mutarelli, senta-se ao lado de Jéssica, vivida por Camila Márdila, e a pede em casamento é mesmo antológico, e já falei com muitas pessoas que pensam como eu.

Tive o grande prazer de, durante a última Feira do Livro, conversar com Mutarelli e é claro que o bombardeei com perguntas sobre a cena: “Ela estava no roteiro?”, “Vocês ensaiaram muito?”, “Fizeram várias tomadas?”. Ele riu e me contou tudo, ou pelo menos o que lembra. Eu, de minha parte, também vou contar pra vocês o que lembro do que ele lembra. Afinal das contas, estávamos os dois na mesa de um bar, acompanhados de uísque de boa qualidade (gelo para Mutarelli, nada de gelo para mim), o que é ótimo para lembrar, mas não tão bom assim para relembrar.

“No final de uma diária”, disse Mutarelli, “tarde da noite, a Ana (Muylaert, diretora do filme) chegou pra mim e disse ‘Amanhã quero que você sente ao lado da Jéssica e peça ela em casamento. Sei que isso não está no roteiro, mas você é um escritor. Então, pode escrever os diálogos hoje de noite’. Eu disse que sim, que escrevia. E até pretendia escrever. Mas acontece que comecei a beber – um bom uísque, como estamos fazendo agora – e bebi tanto que não escrevi coisa alguma. Fui dormir preocupado, sem saber o que fazer no dia seguinte”.

“Quando cheguei no set, a Ana me perguntou: ‘E aí, escreveu?’, eu disse: ‘Claro’, e sacudi um papel todo amassado, com uns garranchos que podiam ser tudo, menos uma cena de cinema. A Ana disse: ‘Não conta nada pra Camila; quero pegar ela de surpresa’. Pouco depois, tava tudo pronto pra filmar, e eu não tinha a menor ideia do que ia dizer. Mas continuava fazendo de conta que tinha escrito. No ‘Ação!’, sentei na mesa, olhei pra garota e comecei a falar o que surgia na minha cabeça, sem pensar, só deixando fluir. A Camila reagiu, eu reagi à reação dela, e a Ana continuou filmando. É isso!”.

Rimos e, pra comemorar o grande feito, pedimos mais duas doses.

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