19 de novembro de 2015 | N° 18360
DAVID COIMBRA
Encontre suas razões
Não poucos analistas alertam para a existência de “motivações mais profundas” para os atentados em Paris. “As coisas não são tão simples”, advertem. É verdade. Temos de considerar pendências do passado.
Por exemplo:
Alguns sírios não gostam dos franceses, porque a França dominou a Síria por décadas, depois da I Guerra Mundial. Então, esses ataques terroristas também podem estar funcionando como espécie de vingança.
Outro problema dos sírios é com Israel, com quem já entraram em guerra. Israel, aliás, tem problemas com quase todos os países árabes, que não querem um Estado judeu na Palestina. Eles não se gostam nem um pouco, os árabes e os israelenses.
Os palestinos gritam todos os dias que são oprimidos pelos israelenses, que, por sua vez, foram oprimidos não apenas pelos alemães na II Guerra, mas por espanhóis, portugueses e ingleses, que os expulsaram de seus países em séculos anteriores, e por russos, que promoviam os chamados pogroms.
Os ucranianos, da mesma forma, sofreram massacres nas mãos dos russos e ainda estão ressentidos com eles, e meio que em guerra.
Os russos, no entanto, foram massacrados pelos alemães durante a Operação Barbarossa, e se vingaram na tomada de Berlim.
Porém, os alemães, na II Guerra, já tinham se vingado dos franceses, quando marcharam em passo de ganso por Paris. Essa vingança, na verdade, foi uma vingança da vingança dos franceses cometida ao fim da I Guerra, com o Tratado de Versalhes.
Os Estados Unidos eram contra esse tratado vingativo e cruel, mas depois, na II Guerra, foram cruéis jogando duas bombas atômicas em cidades do Japão. Contudo, lembremos que o Japão havia sido extremamente cruel ao ocupar a Coreia, antes da guerra, transformando as coreanas em escravas sexuais e submetendo os coreanos a trabalhos forçados.
Parte da Coreia, a do Norte, ainda se queixa amargamente do Japão. Os norte-coreanos se dizem igualmente inimigos dos Estados Unidos, embora todos saibam que os verdadeiros inimigos dos Estados Unidos estão em alguns países árabes e no Afeganistão.
Sim, os afegãos já brigaram muito com americanos e, nos anos 1980, com os russos, já brigaram até com os paquistaneses, embora se diga, naquela região, que Afeganistão e Paquistão são irmãos, o que até rima.
O contencioso do Paquistão, de fato, é com a Índia. Que foi oprimida pelos ingleses. Que, no tempo de seu império, onde o sol jamais se punha, oprimiu terrivelmente os povos africanos. Se bem que é verdade que os africanos talvez tenham sido ainda mais oprimidos pelos portugueses e por nós, brasileiros, que os escravizamos durante mais de 300 anos.
Na Argentina, os africanos e seus descendentes foram dizimados, desapareceram, e uma das formas que os argentinos empregaram para cometer tal crime foi mandá-los para as frentes de batalha em guerras. O Brasil fez o mesmo com os negros na Guerra do Paraguai. Os paraguaios lembram sempre que seu país foi massacrado por brasileiros, argentinos e uruguaios nesse conflito, e não é uma boa lembrança.
Alguns historiadores afirmam que a Guerra do Paraguai foi travada a mando da Inglaterra, mas é um exagero. A Inglaterra tem outras dívidas importantes, sobretudo com seus vizinhos próximos, os irlandeses e os escoceses. Até com a França a Inglaterra teve questões, como a Guerra dos Cem Anos, que, por sinal, durou mais do que cem anos.
Bem depois é que ingleses e franceses tornaram-se aliados. Agora, estão juntos de novo contra... os sírios, ou alguns deles, que, como disse, não gostam nada da França, e para isso têm seus motivos, são muitos os motivos de todos, todos têm seus motivos, há motivos para tudo no mundo. Até para quem quer a paz.
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