21 de novembro de 2015 | N° 18362
GANGORRA EMOCIONAL
MENTES INQUIETAS
SEM CAUSAS BEM DEFINIDAS E EXAMES QUE COMPROVEM O PROBLEMA, O TRANSTORNO BIPOLAR PODE LEVAR ANOS PARA SER DIAGNOSTICADO
O transtorno de humor bipolar é uma doença da qual ainda não se sabe muito sobre as causas e não há exames que possam comprovar o diagnóstico. Conhecida pela alternância entre fases de mania e depressão, a enfermidade apresenta um rol de sintomas e nuances que não se restringem à oscilação de humor e que tornam o diagnóstico mais complicado. No Brasil, uma pessoa com o problema demora, em média, seis anos para descobrir que sofre com a doença.
Dois são os tipos em que se divide o transtorno: no tipo 1, o paciente apresenta episódios de mania, que pode se manifestar como psicose e, no tipo 2, menos grave, apresenta hipomania – a pessoa fica acelerada, dorme mal, tem exaltação de humor. Quem é diagnosticado com o primeiro também pode apresentar episódios de hipomania, mas, para isso, precisa ter tido ao menos um registro de mania ao longo da vida. As duas formas trazem algumas dificuldades para o diagnóstico.
– O tipo 1 pode ser confundido com doenças como a esquizofrenia, já o 2 com depressão. Cada um tem os seus desafios – explica o psiquiatra Flávio Kapczinski, professor titular da Faculdade de Medicina da UFRGS e coordenador do Programa de Tratamento do Transtorno de Humor Bipolar do Hospital de Clínicas de Porto Alegre.
Kapczinski também estuda as bases biológicas do transtorno e relata que os avanços mais atuais sobre a doença são sobre o que é chamado neuroprogressão do quadro do paciente:
– Em um grupo que temos no Clínicas e em outras pesquisas, mostrou-se que, quando a pessoa tem mais de 10 episódios da doença, há uma tendência de diminuição de volume de certas áreas do cérebro, as pré-frontais, como o hipocampo, responsável pela memória. Mas isso não ocorre com todos. Alguns exames, particularmente a ressonância magnética, é que ajudam a fazer essa distinção.
Por isso a importância da adesão ao tratamento, que ajuda a evitar os episódios de mania ou hipomania e depressão.
– Até pouco tempo atrás não se considerava o transtorno bipolar uma doença que causasse danos cerebrais. Hoje já se sabe que pode deixar uma sequela – reitera a psiquiatra Helena Maria Calil, ex-presidente da Associação Brasileira de Amigos, Familiares e Portadores de Transtornos Afetivos (Abrata) e com longa atuação na área.
Para Doris Hupfeld Moreno, psiquiatra e pesquisadora do Grupo de Doenças Afetivas do Instituto de Psiquiatria do Hospital de Clínicas da USP, todo paciente para o tratamento ao menos uma vez na vida, o que faz do conhecimento do transtorno algo essencial para as pessoas:
– Para todas as doenças crônicas, a adesão é um problema. Por isso, faz parte do tratamento entender os sintomas. Todos param o tratamento alguma vez. Cada um precisa “apanhar” da doença, para, aos poucos, aprender a se tratar. É um processo.
u Preconceito com a doença ainda é grande
Assim como em outras doenças mentais, o preconceito atua sobre as dificuldades de procurar ajuda.
– O estigma ainda é muito grande no Brasil. Alastra-se o mito de que todo mundo é bipolar, mas 90% não são. Vira até adjetivo. Isso apenas acentua o preconceito. E, quando alguém fala que tem transtorno bipolar, as outras pessoas se afastam. Mas quem tem, quando bem tratado, não aparenta o transtorno – completa Doris.
Por isso também que o nome mudou de psicose maníaco-depressiva para o atual, conta o psiquiatra José Alberto Del Porto:
– O termo psicose é muito carregado de estigma, e nem sempre o transtorno bipolar se configura por ele. Temos formas mais leves que se caracterizam mais por exaltação do humor, sem ter delírios, que é uma marca da psicose.
CARACTERÍSTICAS DO TRANSTORNO
Na fase maníaca
Irritação
Agressividade
Pensamento e fala rápidos
Eficiência além da conta
Fazer coisas sem medir consequências
Insônia ou pouca necessidade de sono
Comportamentos impulsivos
Na fase depressiva
Desânimo
Falta de eficiência
Tristeza profunda
ensação de vazio
Falta de apetite
Pensamentos suicidas e de morte
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