13 de novembro de 2015 | N° 18354
MOISÉS MENDES
Chuchus e palestras
Tenho curiosidade permanente sobre a rentabilidade de algumas atividades. Sempre me intrigam, por exemplo, os possíveis ganhos de mercadinhos, considerando-se que há grandes perdas com tomates, brócolis, bananas e chuchus não vendidos a tempo.
A sensação geral é de muito trabalho e lucro quase zero. Mas nunca havia pensado como alguém pode lucrar tanto com coisas não palpáveis, como palestras. Pegando-se o caso da Odebrecht como pagadora, descobre-se que uma palestra pode render até R$ 300 mil, se o conferencista for Lula, por exemplo.
Nada é perecível no alto mercado de palestras. Mas há casos em que a Odebrecht chegou a conversar sobre palestras, pagou e, parece, não teve palestra nenhuma. Foi o que aconteceu, segundo relatório da Polícia Federal, entre 2011 e 2012, por 13 meses, quando a empreiteira pagou uma quantia mensal ao Instituto Fernando Henrique Cardoso, sem qualquer compensação que possa ter sido identificada na investigação.
Está no relatório da PF. Uma troca de e-mails entre alguém da secretaria do instituto e alguém da Odebrecht informa: o instituto recebe doações, mas nem sempre retribui o mimo com palestras. É o que dizem os e-mails.
Mesmo assim, a empreiteira depositou R$ 975 mil na conta do instituto, em quantias mensais. A Odebrecht deu mesadas ao Instituto FH, segundo a PF. E não há registro de nenhuma palestra.
Lula já disse que suas palestras caríssimas explicam o recebimento de parte dos R$ 3,9 milhões da Odebrecht entre 2011 e 2014. A Odebrecht já havia afirmado, em nota oficial, anos atrás, que financiava palestras variadas. Eram contribuições a pessoas ou entidades que se dedicam a “fortalecer a democracia”.
As doações a Lula e FH ressuscitam a discussão da época em que estourou a Lava-Jato. É o debate do relativismo moral. Políticos da linha de frente do neomoralismo brasileiro receberam dinheiro das empreiteiras, e dinheiro farto. Mas o dinheiro deles, que são da oposição, era dinheiro legal. Só o dinheiro para os outros, os governistas, era dinheiro ilícito.
O mesmo parece valer agora para as doações aos institutos dos ex-presidentes. Dependendo de quem recebe, a doação é limpa e sem nenhuma intenção além da benemerência cívica, com ou sem palestras. A mais corrupta das empreiteiras teria feito doações sem receber nada em troca porque tem vocação para a filantropia.
Hoje em dia, cada um arranja o argumento que quiser para defender-se ou atacar. Dependendo das circunstâncias e dos favorecidos, o dinheiro pode ser limpo ou pode ser sujo. E tudo vira apenas uma questão de ponto de vista.
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