sexta-feira, 20 de novembro de 2015



20 de novembro de 2015 | N° 18361 
MOISÉS MENDES

Faroeste golpista


O esforço pelo golpe chegou ao estágio do grotesco com o espetáculo de uma turma armada acampada diante do Congresso. Sujeitos que saem dando tiros em quem discorda das suas pregações vão afugentar aliados e cães de Brasília. É quando uma ideia aparentemente defensável pode ser destruída pela própria caricatura.

Para quem não viu a cena no Jornal Nacional, foi assim: na quarta-feira, alguns indivíduos não gostaram da concorrência da Marcha das Mulheres Negras perto do Congresso. Dois deles puxaram seus revólveres e saíram das barracas atirando. Um dos caubóis já havia sido preso armado dias antes, mas continuava solto.

Ninguém esperava que os tucanos abandonassem Eduardo Cunha de repente, e a linha de frente do golpe fosse assumida por militantes armados a poucos metros da Praça dos Três Poderes.

Golpistas andam soltos desde os golpes de antigamente. Os neogolpistas os imitam e também se sentem à vontade. Até pouco tempo, eram liderados por nomes de peso da política. A liderança foi rebaixada e, pelo que se vê, entregue ao pessoal do faroeste.

Não é, como pode parecer, gente folclórica como a reunida por aquele rapaz do Movimento Brasil Livre, que fez em maio a marcha do impeachment a Brasília com 12 romeiros. Esses de agora não são apenas bravateiros. São a ala radical de golpistas – alguns encabulados, outros recatados –, que se reagrupam para decidir o que fazer com o desgaste de seu projeto.

Vamos acompanhar o caso, para ver se os dois valentes armados, que enfrentaram um perigoso grupo de mulheres com faixas e cartazes, voltará ao acampamento. Não duvide se voltarem.

Elementos desse naipe vão se sentir poderosos se o Congresso aprovar a lei que acaba com o Estatuto do Desarmamento. Cada cidadão do bem, como eles dizem, terá direito a um arsenal de nove armas. E poderá sair armado na rua, o que o Estatuto impede desde 2003.

Entende-se o medo que leva alguém a achar que estará a salvo da violência se tiver uma arma em casa ou na cintura. Mas não dá para aceitar ingenuamente que a bancada da bala e a indústria da arma manipulem esse medo.

Imagine do que os sujeitos do faroeste caboclo de Brasília serão capazes depois da aprovação da tal lei. E dizer que um tio, um amigo, um colega, um vizinho seu já esteve ao lado dessa gente.

Golpistas armados (que desejam o golpe militar mesmo, e não o impeachment), que conspiram abertamente contra a democracia e disparam em meio a multidões indefesas, têm mais semelhanças do que diferenças com os terroristas de Paris. O grau de imbecilidade é o mesmo.

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