16 de novembro de 2015 | N° 18357
MARCELO CARNEIRO DA CUNHA
A VIDA IMITA AS SÉRIES
Pois The Good Wife mostra muita coisa, mesmo não mostrando algumas. O drama funciona, e bem, com base em dois eixos – o horizontal, formado pelos ambientes da casa, trabalho e família da protagonista, e o vertical, formado pelo assunto de cada episódio. Nessa parte, The Good Wife é uma série tradicional de tribunal, uma das áreas em que o cinema e a televisão americanos excedem. Lá, juiz é durão, e advogado diz “Objection” o tempo todo, e todo mundo treme de felicidade ao ver o malvado ir em cana e o bonzinho reconquistar a liberdade.
O que é diferente em The Good Wife, para mim, é o nível de interação entre a realidade aqui fora, aquela onde as pessoas pagam contas e pegam gripe, e a realidade ficcional da série. Em The Good Wife, a realidade entra pela porta, pela janela, e não sai mais. Temas do momento no mundo real são componentes do cenário, e inundam a série de um realismo contagiante.
Nesta temporada, por exemplo, o marido traíra da The Good Wife quer ser presidente, justamente na hora em que Hillary Clinton resolve a mesma coisa. O seriado se adona da campanha presidencial americana que ocorre nesse instante, e somos levados continuamente a confundir realidade lá fora com realidade lá dentro. Isso, caros leitores, é bom.
Uma campanha presidencial americana é um festival, e The Good Wife mergulha nele. Sabedoria política, inocência política, a colisão entre democratas e republicanos, tudo isso está presente e em toda parte nessa temporada de The Good Wife. Há quem goste e quem não goste da mistura de real com imaginário. Já eu, caros leitores, um observador cansado, acredito, do fundo de minha alma, que, em política, não existe imaginário.
Fica a dica, e ademã.
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