18 de novembro de 2015 | N° 18359
MOISÉS MENDES
Os duelistas
As confrarias também estão em crise. Frequento três confrarias e fui convidado a participar de uma quarta, em substituição a um integrante que enjoou da turma e da comida. Busquei informações sobre o grupo e fiquei sabendo que é proibido falar de política nacional à mesa. Falam até do sumiço das formigas na Patagônia, mas ninguém pode dar um pio sobre a decisão dos tucanos de desistir, com agilidade e determinação, do apoio a Eduardo Cunha.
Os confrades concluíram que ficou impossível reunir amigos para comer, beber, rir e debater, se a política estiver no meio. Quis saber se é uma deliberação de estatutos e me disseram que não, que pode até ser temporária, por causa do clima geral. Vamos deixar passar, me disse o que me convidou.
Tentam evitar o que aconteceu em outra confraria famosa de Porto Alegre. Me contaram que, em almoço dessa outra confraria, aconteceu o que vinha sendo anunciado há tempos. Dois intelectuais (só intelectuais-professores frequentam o grupo) passaram a duelar sobre erros e acertos do governo federal. Um defendendo Dilma, o outro a atacando.
Debatiam déficit público, corrupção, pauta- bomba, a dieta de Dilma. O tom foi sendo amplificado. Meu informante, abastecido por informações de um terceiro, diz que os dois pareciam tomados pelos espíritos que se apossavam dos guris nos bons tempos da militância estudantil. Mas os duelistas já têm cabeça branca.
Os outros seis ou sete casais (a confraria é de casais) se dividiam. Uns procuravam os cantos, e outros tentavam apartar a briga. Foi quando o defensor de Dilma levantou- se e disse: pra mim, chega. E foi embora. Ouviram alguém dizer: eles passaram dos limites. O almoço saiu, mas sob constrangimento geral.
Passaram o resto do encontro falando das crianças (que salvam momentos como este) e das dificuldades para baixar pela internet a guia do novo FGTS das domésticas. O duelista que ficou na casa foi inundado de culpas, a ponto de declarar que revisaria muito do que disse para ter o amigo de volta.
Agora, imagine se é possível que uma confraria não debata política porque o convívio de discordantes se tornou insuportável. E com dois senhores respeitáveis, ambos oriundos da universidade. Ouvi a história e agradeci o convite para preencher a vaga aberta na outra confraria.
Eu só iria se pudesse defender a tese de que os tucanos foram apressados demais ao retirarem o apoio a Eduardo Cunha.
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