quinta-feira, 12 de novembro de 2015



12 de novembro de 2015 | N° 18353 
DAVID COIMBRA

Por que o cachorro vira a cabeça


Não tenho a menor dúvida de que a notícia mais interessante publicada nos últimos dias foi a respeito da pesquisa científica que tenta descobrir por que os cachorros viram a cabeça para o lado quando uma pessoa fala com eles. Essa questão não me havia ocorrido, até então. Já tinha reparado que os cães entortam a cabeça de vez em quando, mas achei que, sei lá, fosse só um jeitão deles.

Algumas mulheres, por exemplo, trançam as pernas, em vez de cruzá-las. Assim: além de fazer um xis com os joelhos, elas torcem as pernas de maneira que uma canela encoste na outra panturrilha. Aí elas ficam sentadas de ladinho, e parece bem confortável. Definitivamente, é preciso flexibilidade para se acomodar nessa posição. Por que elas fazem isso? O que significa? Qual é o estado de espírito de uma mulher, quando ela senta dessa forma?

Essas coisas sempre me intrigaram, além de outros hábitos curiosos das mulheres, como jogar os bracinhos para cima quando dançam. Adoro esse momento. Nenhum cientista jamais tentou descobrir tais mistérios femininos. No entanto, um psicólogo chamado Stanley Coren saiu pelos Estados Unidos entrevistando donos de cachorros para saber por que razão eles (os cachorros, não os donos) giram a cabeça para um lado se um ser humano, por algum motivo, resolve lhes dirigir a palavra.

Esse psicólogo falou com 582 donos de cães acerca desse tema. Não é pouca coisa. Se ele entrevistou dois donos de cachorro por dia, inclusive durante os finais de semana, levou quase um ano na atividade. Mais o tempo para tabular os dados e para colocar no papel, bote aí cerca de ano e meio de trabalho.

Um ano e meio pensando em por que um cachorro vira a cabeça para o lado quando uma pessoa fala com ele. Um homem afortunado, esse Stanley.

No mundo de Stanley, não há políticos que sabotam o país para vencer a próxima eleição, nem governos que se utilizam da máquina pública para se eternizar no poder, ninguém tem medo de ser assaltado na rua ou de ficar desempregado, não há Dilmas, Aécios, Lulas, Willys ou Bolsonaros. No mundo de Stanley, pouco importa a opinião das pessoas nas redes sociais ou nos jornais. A Pugliesi fez uma brincadeira sobre gordas? A Manuela não gostou? E daí? Que diferença faz? No mundo de Stanley, o que interessa é saber por que, afinal, um cachorro entorta a cabeça no momento em que uma pessoa se comunica com ele.

Aliás, por que mesmo? O que concluiu a pesquisa? Stanley não tem certeza. Talvez seja pelo tamanho do focinho, talvez seja para agradar, talvez seja para ouvir melhor, ele não sabe ao certo. Mas isso também não tem importância. O que tem importância é que alguém, finalmente, preocupou-se com a virada de cabeça dos cachorros e que a imprensa inteira publicou essa notícia com entusiasmo. Que bom. Que alívio, até. Continuamos ignorantes sobre esse enigma canino, mas descobrimos que o mundo pode ser singelo, afinal.

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