Jaime Cimenti
Ensino não é só ferramenta do PIB
Refletindo que o ensino, especialmente o universitário, não deve ser reduzido a uma ferramenta do Produto Interno Bruto (PIB) e que devemos reconectar novamente as humanidades à educação, a norte-americana Martha C. Nussbaum, professora emérita de Direito e Ética da Universidade de Chicago, expõe, mais uma vez, suas ideias em Sem fins lucrativos - Por que a democracia precisa das humanidades (WMF Martins Fontes, 154 páginas).
Martha escreveu, entre outros, os livros Fronteiras da Justiça e A fragilidade da bondade, publicados no Brasil pela WMF e é considerada, na atualidade, uma das mais eruditas e visionárias acadêmicas que escreve sobre o Ensino Superior. Sem fins lucrativos lembra que os objetivos maiores da educação liberal vão além do projeto pessoal e da competitividade nacional. "O verdadeiro projeto é educar cidadãos globais responsáveis que irão defender a democracia e o desenvolvimento humano, e que tenham a competência para colocar, acima das diferenças, a solução dos urgentes problemas mundiais", diz.
Martha diz que a educação está cada vez mais utilitária, voltada para o mercado e para a carreira profissional, e empobrecida com as artes e humanidades. Embora entenda que as humanidades não tornem, por si, as pessoas necessariamente bondosas e criativas, pensa que elas são necessárias para o exame socrático e para o autoexame. Para Sócrates, uma vida não examinada não valia a pena ser vivida.
Historicamente, as humanidades têm sido fundamentais para a educação, porque tem se considerado que são essenciais para a formação de cidadãos democráticos competentes. Para a autora, nos últimos tempos, a reflexão sobre os objetivos da educação perdeu o rumo nos Estados Unidos e fora dele. Priorizando o crescimento econômico, a educação passou a enfatizar a educação de alunos economicamente produtivos ao invés de ensiná-los a raciocinar e a se tornarem cidadãos compreensivos e instruídos. A perda de sensibilidade social coloca as democracias em risco e a esperança de um mundo decente.
A partir do relato de eventoseducacionais perturbadores e auspiciosos, de todo o mundo, Martha faz um manifesto é um brado de alerta para todos aqueles que se preocupam com os objetivos mais profundos da educação.
"Se não insistirmos na importância crucial das humanidades e das artes, elas vão desaparecer gradativamente, porque não dão lucro. Elas só fazem o que é muito mais precioso do que isso: criam um mundo no qual vale a pena viver, pessoas que são capazes de enxergar os outros seres humanos como pessoas completas, com opiniões e sentimentos próprios, que merecem respeito e compreensão e nações que são capazes de superar o medo e a desconfiança em prol de um debate gratificante e sensato", diz a autora.
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