quinta-feira, 19 de novembro de 2015



19 de novembro de 2015 | N° 18360 
LUCIANO ALABARSE

NOVELEIROS

Somos noveleiros, eu, Luiz Tatit e Adriana Calcanhotto. Menosprezadas como arte menor, as novelas têm se mostrado uma das caras mais interessantes do país. Tatit, um dos nossos músicos mais sofisticados, chega a trocar o horário de seus ensaios para não perdê-las. Adrix se apaixonou por Além do Tempo, mais precisamente pela interpretação de Irene Ravache. Já eu sou fã de A Regra do Jogo; em especial, admirei o trabalho da Cássia Kis durante sua participação.

Conheci Cássia no início de sua carreira, dirigida por Augusto Boal, dividindo o palco com Fernanda Montenegro em Fedra, de Racine. Amigo de Edson Celulari e Linneu Dias, ambos no elenco, ia à peça todos os dias. O cenário, caveiras de boi espalhadas pelo palco, era horrível. A interpretação de Fernanda me parecia forçada. Mas as entradas de Cássia me arrastavam para um mundo arcaico e assustador. De lá para cá, a atriz refinou sua arte e é hoje uma das maiores atrizes do mundo, como bem disse Amora Mautner.

Como nossas novelas, as canções brasileiras sempre ajudam o país a sair de seus bretes e desesperanças. O dueto de Dani Black e Milton Nascimento em Maior (“eu sou maior do que era antes/estou melhor do que ontem/somente o tempo vai me revelar quem sou”), faixa final de Dilúvio, segundo CD do talentoso filho de Tetê Espíndola, chega a doer de tão bonito. Beleza é o que também não falta a Delírio, CD novo da Roberta Sá. 

Nada, no entanto, se compara à voltagem emocional de Soledade, o excepcional disco de Cida Moreira, ou a alegria solar de Antes do Mundo Acabar, da maravilhosa Zélia Duncan. Cantando Riachão, Arlindo Cruz e canções próprias, Zélia revigora a felicidade nacional. Nosso Nei Lisboa brilha em 18 canções autorais gravadas ao vivo, recém-lançadas. Lindas demais. Anotem: apesar dos Cunhas da vida, sairemos do buraco.

Deixo uma dica: procurem o Almir e o Giovani na Livraria Cultura. Os caras sabem tudo de música brasileira. São eles quem me põem todos esses belos discos na mão.

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