25 de novembro de 2015 | N° 18366
MARTHA MEDEIROS
Nervosinhos
Eu tinha 22 anos e trabalhava perto do estádio Olímpico. Um dia, fiquei na agência até mais tarde e resolvi voltar pra casa de táxi. Tudo ia bem, até que um carro fechou a frente do táxi onde eu estava e deu uma leve encostadinha. O carro da frente deveria ter parado, mesmo intuindo a ausência de dano material, mas não foi o que aconteceu. Ele se mandou. E o motorista do meu táxi, macho, se mandou atrás dele. Começava assim uma perseguição pelas ruas de Porto Alegre.
Nenhum deles respeitava os sinais fechados, era uma roleta-russa, e eu rezando no banco de trás, que nessa hora todo mundo deixa de ser ateu. Implorava para o motorista me largar em qualquer canto, já estava com o dinheiro devido nas mãos, mas ele nem ouvia, relinchava. Quando dei por mim, estávamos num bairro ermo, com pouca movimentação. O carro da frente dobrou numa estrada de terra mal iluminada, e o meu táxi na cola. Até que o fugitivo parou, e meu táxi parou alguns metros atrás. Foi quando meu prevenido motorista levantou o tapete do chão do copiloto, onde não havia assento (quem nasceu no século passado lembra) e retirou dali um facão.
E saiu porta afora disposto a resolver a pendenga da forma menos civilizada possível. Saí porta afora também, mas correndo na direção oposta, à procura da avenida pavimentada pela qual recém havíamos passado. Escutei uns gritos ao longe, mas não fiquei para recolher os cadáveres. Logo reencontrei o asfalto, peguei outro táxi e voltei para casa aos soluços. O dinheiro que eu ainda trazia em mãos serviu para pagar a segunda corrida.
Semana passada eu tinha bem mais de 22 anos e estava conversando com a Claudia Tajes num bistrô perto de casa. Ao final do encontro, pegamos um táxi estacionado no ponto em frente, ela me daria uma carona antes de seguir para o Centro. Em um minuto, que é o tempo que fiquei no táxi, o motorista acelerou, costurou, freou, quase bateu: um nervosinho.
Ao descer em frente ao meu edifício, temi pela Claudia na companhia daquele boçal. Pedi a ele para levá-la com mais cuidado, e deixei claro que logo entraria em contato para saber se ela havia chegado bem. Meia hora depois trocamos um WhatsApp: ela disse que minha recomendação não havia servido pra nada, mas ao menos estava a salvo. Autoridade nunca foi o meu forte.
Se houvesse mais espaço, contaria da vez em que, no Rio, durante uma viagem do Leblon a Niterói, um motorista de táxi me narrou em detalhes sua tentativa de assassinar um cunhado por causa de uma dívida (se virasse filme, o título seria Sangrentos e Brutais), mas só o que me restou é dizer que acho lamentável a EPTC querer fisgar motoristas do Uber através do aplicativo e multá-los, interrompendo um dos raros avanços surgidos na capital gaúcha. Que regulamentem o Uber de uma vez. E minha cordial saudação a todos os taxistas que não são nervosinhos.
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