28 de junho de 2015 | N° 18208
MOISÉS MENDES
Todos Envelheceram
Todos Envelheceram
O PT já estava ficando velho, mas só ganhou rugas profundas
na manhã de 19 de julho de 2005, uma terça-feira. Lula chamou Olívio ao Palácio
do Planalto e o avisou da decisão dolorosa. Olívio deveria ceder o Ministério
das Cidades a Márcio Fortes de Almeida, secretário-executivo do Ministério do
Desenvolvimento e apadrinhado do PP.
Só os mais próximos sabiam quem era o escolhido, protegido
do presidente da Câmara, o inacreditável Severino Cavalcanti. Fazia-se o sacrifício
em nome da governabilidade, em meio ao furacão da CPI do mensalão.
Não foi exatamente ali que o petismo começou a virar outra
coisa. Mas ali, quando Olívio se viu trocado pelo protegido de Severino (lembram
dele?), tudo poderia acontecer. E aconteceu. Foi naquele inverno de exatos 10
anos atrás.
O que Lula disse no início da semana passada todos já haviam
dito. Só que agora é Lula quem admite que o PT envelheceu e virou um partido em
que todos brigam por cargos. “Temos que definir se queremos salvar nossa pele e
os nossos cargos ou se queremos salvar o nosso projeto”, disse Lula.
Já em 2005, Olívio entregou o cargo para que o governo
tentasse salvar a pele. Ampliaram-se as alianças. Os partidos velhos, novos,
grandes, os médios, os sanguessugas, nanicos variados, conservadores à direita
da direita religiosa, que já constrangiam petistas históricos e a classe média
militante desde a eleição de 2006, lotaram a coalizão.
Eu estava em Brasília naquele 19 de julho, para cobrir a CPI
do mensalão, e não a demissão de Olívio, que surpreendeu os próprios
governistas. Fui com os colegas Carolina Bahia e Klécio Santos ao Ministério
das Cidades. Os corredores transpiravam desolação e constrangimento.
Um dos 12 avalistas da carta de fundação do PT em 1980 era
mandado embora para dar lugar a um contumaz ocupante de funções subalternas
desde o governo Collor. O pepista saiu do terceiro time para virar ministro no
lugar de Olívio.
Os acertos eram fechados com o aval de José Janene, deputado
do PP do Paraná, que estaria mais tarde na origem das investigações da Lava- Jato.
Janene, compadre e cúmplice do doleiro Youssef, morreu em 2010.
Depois disso, Lula se reafirma como instituição acima do
partido. O lulismo substitui o petismo e passa a ser sustentado eleitoralmente
pelo que antigamente se chamava de proletariado. A classe média abandona as
bandeiras que davam charme ao partido. O lastro eleitoral é então o da nova
classe média. O fenômeno se completa em 2006 e se consolida em 2010 e 2014.
O grande projeto é a inclusão social. O país e os pobres
prosperam. Mas a ressaca começa a pegar Dilma e se agrava com o refluxo da
corrupção da Lava-Jato. O desencanto que Lula manifestou no início da semana já
existia há pelo menos uma década. Era camuflado pela prosperidade.
O dilema do partido que ficou velho talvez nem seja o de
como reconquistar a classe média dita progressista e há muito desencantada. Nem
o de mobilizar uma esquerda encabulada e silenciosa. Mas de convencer os incluídos
socialmente de que o projeto lá do começo só pode continuar sob o lulismo.
Não foi só o PT que virou outra coisa. O antigo pobre ou
remediado do início do século 21 tem outras demandas. Lula e o PT são
desafiados a entender as inquietações dessa gente que nem a ciência política
sabe enquadrar direito.
O incluído pelo lulismo ao consumo, ao emprego, à universidade
e às viagens a Miami está pronto para se aliar à antiga classe média e se jogar
nos braços de quem estiver por perto. Até a nova classe média ficou velha.
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