sábado, 27 de junho de 2015




28 de junho de 2015 | N° 18208
MOISÉS MENDES

Todos Envelheceram


O PT já estava ficando velho, mas só ganhou rugas profundas na manhã de 19 de julho de 2005, uma terça-feira. Lula chamou Olívio ao Palácio do Planalto e o avisou da decisão dolorosa. Olívio deveria ceder o Ministério das Cidades a Márcio Fortes de Almeida, secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento e apadrinhado do PP.

Só os mais próximos sabiam quem era o escolhido, protegido do presidente da Câmara, o inacreditável Severino Cavalcanti. Fazia-se o sacrifício em nome da governabilidade, em meio ao furacão da CPI do mensalão.

Não foi exatamente ali que o petismo começou a virar outra coisa. Mas ali, quando Olívio se viu trocado pelo protegido de Severino (lembram dele?), tudo poderia acontecer. E aconteceu. Foi naquele inverno de exatos 10 anos atrás.

O que Lula disse no início da semana passada todos já haviam dito. Só que agora é Lula quem admite que o PT envelheceu e virou um partido em que todos brigam por cargos. “Temos que definir se queremos salvar nossa pele e os nossos cargos ou se queremos salvar o nosso projeto”, disse Lula.

Já em 2005, Olívio entregou o cargo para que o governo tentasse salvar a pele. Ampliaram-se as alianças. Os partidos velhos, novos, grandes, os médios, os sanguessugas, nanicos variados, conservadores à direita da direita religiosa, que já constrangiam petistas históricos e a classe média militante desde a eleição de 2006, lotaram a coalizão.

Eu estava em Brasília naquele 19 de julho, para cobrir a CPI do mensalão, e não a demissão de Olívio, que surpreendeu os próprios governistas. Fui com os colegas Carolina Bahia e Klécio Santos ao Ministério das Cidades. Os corredores transpiravam desolação e constrangimento.

Um dos 12 avalistas da carta de fundação do PT em 1980 era mandado embora para dar lugar a um contumaz ocupante de funções subalternas desde o governo Collor. O pepista saiu do terceiro time para virar ministro no lugar de Olívio.

Os acertos eram fechados com o aval de José Janene, deputado do PP do Paraná, que estaria mais tarde na origem das investigações da Lava- Jato. Janene, compadre e cúmplice do doleiro Youssef, morreu em 2010.

Depois disso, Lula se reafirma como instituição acima do partido. O lulismo substitui o petismo e passa a ser sustentado eleitoralmente pelo que antigamente se chamava de proletariado. A classe média abandona as bandeiras que davam charme ao partido. O lastro eleitoral é então o da nova classe média. O fenômeno se completa em 2006 e se consolida em 2010 e 2014.

O grande projeto é a inclusão social. O país e os pobres prosperam. Mas a ressaca começa a pegar Dilma e se agrava com o refluxo da corrupção da Lava-Jato. O desencanto que Lula manifestou no início da semana já existia há pelo menos uma década. Era camuflado pela prosperidade.

O dilema do partido que ficou velho talvez nem seja o de como reconquistar a classe média dita progressista e há muito desencantada. Nem o de mobilizar uma esquerda encabulada e silenciosa. Mas de convencer os incluídos socialmente de que o projeto lá do começo só pode continuar sob o lulismo.

Não foi só o PT que virou outra coisa. O antigo pobre ou remediado do início do século 21 tem outras demandas. Lula e o PT são desafiados a entender as inquietações dessa gente que nem a ciência política sabe enquadrar direito.

O incluído pelo lulismo ao consumo, ao emprego, à universidade e às viagens a Miami está pronto para se aliar à antiga classe média e se jogar nos braços de quem estiver por perto. Até a nova classe média ficou velha.

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