19
de junho de 2015 | N° 18199
MOISÉS
MENDES
A
ofensa
Qual
o limite do deboche dos que desfrutam da democracia para desqualificá-la, como
fez na quarta-feira o deputado Capitão Augusto (PR-SP), sentado na cadeira que
já foi de Ulysses Guimarães na Câmara?
O
capitão reformado da PM paulista, defensor da ditadura, sentou-se na cadeira de
presidente da Câmara porque, em algum momento da sessão, isso é permitido aos
que nunca conseguirão ocupá-la de outra forma.
É um
gesto simbólico. Todos os parlamentares podem um dia comandar a sessão por
alguns minutos. Por isso o Capitão Augusto aboletou-se fardado na cadeira de
presidente. O baixo clero da Câmara adora a encenação.
O
deputado estava faceiro como guri que dá voltinhas em bicicleta emprestada. Tão
feliz que saiu da mesa da presidência dando entrevistas em defesa da ditadura.
Já disseram
que uma democracia perfeita permite inclusive a pregação dos que desejam sepultá-la.
A Constituição diz que não. É óbvio demais que defensores de golpes não podem
ser tratados com deferência pelos democratas.
Está
escrito na Constituição que configura crime inafiançável e imprescritível
atentar contra a ordem constitucional e o estado democrático. Ora, é claro que
atentar contra a Constituição é crime. Imagine então o que significa atentar
contra a democracia garantida pela Constituição.
O
Capitão Augusto sentou-se fardado na cadeira em que Ulysses assinou a Constituição
porque a extrema direita brasileira sente-se cada vez mais à vontade. Há no
Brasil, com o suporte de certos cientistas políticos (segundo os quais a
ditadura aqui foi branda), condescendência com grupos fascistas, inclusive - e
lamentavelmente - por parte de setores da imprensa.
O
sujeito que se farda e se esparrama na cadeira de presidente da Câmara (para
transmitir a ideia de supremacia dos militares sobre o poder civil?) está empenhado
na criação do Partido Militar Brasileiro. O Capitão Augusto deveria escolher
outras cadeiras. Quem defende golpes não poderia usufruir impunemente de
direitos que pretende pisotear.
Defender
a ditadura e refestelar-se nas liturgias da democracia é a ofensa extrema. O
capitão dá vida a um daqueles personagens de comédias antigas sobre
republiquetas.
Quem
assiste a tudo com resignação sabe bem qual é o papel reservado aos conformados
nesses episódios.
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