sábado, 13 de junho de 2015


13 de junho de 2015 | N° 18192
DE FORA DA ÁREA | Cláudio Furtado

A VÁRZEA NUNCA PERDERÁ O SEU ENCANTO

Não é campo, é campinho. A grama, um capim brabo. No miolo, areião. Poeira alta no verão. Barro grudento no inverno. Motivos de constantes reclamações das lavadeiras, geralmente as dedicadas mulheres dos próprios atletas. Mas nada é mais puro, autêntico, romântico e representativo da paixão vital pela bola do que a nossa eterna várzea.

Lá não tem o charme das narrações; do replay das melhores jogadas; nem troca de camisetas; muito menos de patrocínios vultosos e, muitas vezes, nem mesmo de bandeirinhas. No máximo, um juiz. E, quase sempre, localista, amigo da turma. Mas sobram churras, cerveja e muita amizade.

Quem não para, pelos menos alguns minutos, para acompanhar um jogo de várzea, definitivamente não gosta de futebol. Claro, entre os 22, tem de tudo. Na extensa lista dos fanáticos pela bola estão os gordinhos, camisetas coladas no corpo, umbigo à mostra; os perebas, geralmente os mais esforçados e organizados da turma; os veteranos, que correm mais com a boca do que com as pernas. Mas não se iludam os torcedores globalizados e arenizados de hoje. Lá sempre teve, tem e terá uma verdadeira legião de craques.

Certamente a grande maioria destes craques não se torna um Pelé, um Garrincha, um Neymar da vida. Muitos, talvez, pela força do destino; outros, porque jogar futebol não representa a sobrevivência, o prato de feijão de cada dia; ou, muitos, impedidos por uma lesão grave, tipo um joelho estourado em razão de uma solada maldosa, que nem cartão amarelo virou. Mas, uma lesão que, com passar do tempo, vira história, passada de geração para geração nas rodas familiares ou nos encontros entre amigos, transformada em afirmativas do tipo: “Este cara jogava um baita bolão. Só não virou profissional porque não quis”.

O desfile semanal dos alucinados pelo futebol prossegue semanalmente nos Ararigboias, Tamandarés, Alins Pedro e Itapevas da vida, entre tantos outros. Na figura de Adão Borges Fortes, o maior craque que já passou pelo Ararigboia, tradicional campinho da baixada da Felizardo Furtado, a homenagem a todos os boleiros, aqueles que já passaram, e deixaram saudades; e a todos que hoje correm atrás de uma bola, movidos apenas por uma única razão: a fantástica e eterna paixão pelo futebol.

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