17 de junho de 2015 | N° 18197
MARTHA MEDEIROS
Estrago seu amor em três dias
Café da manhã do dia 1:
Você está sorrindo do quê? O dia está feio e o café está frio.
Você é boba mesmo.
Música a uma hora dessas? Desligue esse jazz, mulher, que
troço chato.
Vou almoçar na minha mãe.
Você acha que ainda tem idade para usar uma calça rasgada?
Quem está mandando WhatsApp para você antes das 10h da manhã?
Essa sua amiga é muito folgada, não é à toa que ainda está solteira.
Não sei a que horas eu volto.
Café da manhã do dia 2:
Por que você não me acordou antes? Estou atrasado.
É hoje o tal jantar daquela sua prima, a Nadine? Não sei se
vou ter paciência, as conversas são sempre as mesmas.
Você não está arrumada demais para um simples dia de
trabalho?
Peguei o último iogurte. Tem que comprar mais.
Não cabe mais um único creme na bancada do banheiro, pare de
gastar com essas besteiras. Eles não têm adiantado nada, desculpe dizer.
Espero que o vizinho não tenha prensado o carro dele contra
o meu na garagem. Ontem quase não consegui abrir a porta. Furo os pneus do
carro dele ou dou uma arranhada na lataria daquele calhambeque?
Sabe que eu até que simpatizo com esse Bolsonaro? Ele diz
coisas que a gente pensa e não tem coragem de falar.
Vou almoçar com um cliente.
Café da manhã do dia 3:
Vinho ruim o de ontem, hein? Que dor de cabeça dos infernos.
Claro que tenho lido o jornal. Mas nunca ouvi falar nesse
filme.
Cinema, cinema! Por que você não gosta de novela, como toda
mulher?
Vou almoçar na minha mãe. Até o fim do mês a gente transa, prometo. Não fica
nervosinha.
Você não achou ridícula aquela declaração de amor do Mateus
para a Nadine ontem? Estão casados há 19 anos e ainda se prestam àquele vexame.
Sei lá quem é Tim Burton. Já disse que vou almoçar na minha mãe?
Como assim, tchau? Volta aqui, mulher.
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