sexta-feira, 12 de junho de 2015



12 de junho de 2015 | N° 18191
MARCOS PIANGERS

O argumento do dinheiro

Em qualquer discussão em que se critique uma pessoa famosa, vem sempre um contra- argumento dizendo o seguinte: “Mas ele ganha mil vezes mais dinheiro do que tu”.

Me desculpem, mas isso não pode ser usado como argumento. Uma pessoa ganhar mais dinheiro do que eu não pode ser definitivo para defini-la incriticável. Eu fico frustrado com isso. Se o cara tem mais dinheiro do que eu, então, não pode ser criticado. Isso exclui da minha avaliação boa parte da população mundial – e, eu diria, a parte que eu mais gostaria de criticar.

Por essa lógica, Bill Gates não pode ser criticado por ninguém. Eventualmente, apenas por Carlos Slim, o mexicano que, vez ou outra, ultrapassa Gates na lista de mais ricos do mundo. Fico imaginando que Slim vai à forra quando isso acontece. Pega o telefone no dia em que sai a lista e passa o dia reclamando do Windows.

E quando você ganha uma bolada? Ganhar na loteria, por exemplo, te dá algumas milhares de pessoas para criticar, automaticamente. Se você tem um talento que gere imensa riqueza, pode começar a criticar geral. Isso explica as opiniões do Pelé sobre tudo: sempre desastradas, mas, como ele ganha mais do que a gente, não podemos condená-lo. Rubens Barrichello é um corredor médio, mas você não ganha em um ano o que ele ganha em um mês. Passa a ser, então, um grande corredor. O mesmo vale para Neymar, Luciano Huck, Faustão. Eles ganham mais do que você. Não os critique.

Você não pode criticar a J. K. Rowling, escritora milionária da série de livros Harry Potter. Mas pode criticar Van Gogh. Olha que coisa boa: Van Gogh provavelmente ganhou muito menos do que você. Você pode achar os quadros de Van Gogh uma porcaria. Vermeer e Cézanne também morreram pobres. A Claudia Leite é melhor do que eles. O autor do hit Gordinho Gostoso é melhor do que eles. O diretor de Vingadores é melhor do que Woody Allen. Marimbondos de Fogo fica melhor a cada governo.

A grana não pode ser o balizador do talento de uma pessoa. É um argumento muito injusto. E uma mordaça nos críticos da mediocridade vigente.

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