15 de junho de 2015 | N° 18194
MARCELO CARNEIRO DA CUNHA
Game of Bones
Não é tão estranho que a gente considere o mundo de Westeros
o nosso mundo com roupas um pouco diferentes. Ele é mesmo. Westeros somos nós,
com a diferença de que lá o inverno é mais intenso e está chegando. Ah, e dragões.
Ah, gigantes. Ah, Caminhantes Brancos, ou algo assim.
E acho que gosto da parte mais sólida de Game of Thrones. A
parte em que a série faz uma análise implacável da Realpolitik humana, onde
quer que ela ocorra, ou das relações amorosas, ou filiais, ou dos desgostos
familiares que tanto atormentam os nossos personagens.
E não gosto da hora dos mortos vivos, do mundo para lá do
grande muro de gelo, do fantástico que atrapalha. No episódio sete, me incomoda
e muito o momento em que as pessoas começam a virar zumbis de freezer, e o
mundo é dominado por esqueletos. Gosto quando Game of Thrones usa o recurso do
tempo para nos mostrar o quão pouco mudamos, e não gosto quando usa esse
recurso para conseguir uns momentos de medo básico.
Assim, é natural que dragões entrem em cena e salvem a nossa
heroína – por mais pobre que a solução possa parecer – e que afeta, e muito, o
momento realmente importante da temporada e que envolve um pai e uma garotinha.
Sabíamos desde sempre que isso iria acontecer. Shireen
Baratheon era lindinha demais, uma coisa fofa em um mundo destinado à dureza. O
pai dela resolveu ser mais rei do que pai, e o deus que ele serve segue uma
linha asteca de comunicação com humanos. A morte de Shi- reen é um dos momentos
mais duros de uma série dura, e nos lembra que essa nova TV não dá moleza,
mesmo quando a gente pede.
Shireen estragou a minha noite de um jeito, dragões e seres
do outro mundo estragaram de outro jeito. Em um momento, Game of Thrones ficou
menor, e em outro, maior do que ela mesma, e muito mais cruel do que a gente
esperava.
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