quarta-feira, 24 de junho de 2015



23 de junho de 2015 | N° 18203
DAVID COIMBRA

Os vampiros

Todo mundo quer ajudar os pobres do Brasil. É comovente. O ex-presidente Lula, que secundou o ditador Getúlio Vargas no coruscante posto de “Pai dos Pobres”, foi tão convincente em sua pregação social, que duas das maiores empreiteiras do país, a Odebrecht e a Camargo Corrêa, aceitaram doar R$ 7,5 milhões para que ele fizesse palestras a fim de ensinar o planeta a combater a fome. Quanto desprendimento desses grandes homens! Lula, Odebrecht e Camargo Corrêa unidos contra as elites brancas e a favor dos descamisados. Quem poderá vencê-los?

Outro paladino dos pobres é o pastor Malafaia, que anda às turras com o jornalista Boechat. Vi um vídeo em que ele (o pastor, não o jornalista) explica aos pobres como realizar o sonho mais sonhado dos brasileiros: o tal da casa própria. É assim: se você paga aluguel, tem de dar o valor de um mês para o Malafaia; se você fez financiamento, tem de dar uma prestação; se você mora de favor num quarto do apartamento de um amigo, tem de dar 30% do seu salário; se você está desempregado, nem salário recebe, tem de dar 30% do que ganha para sobreviver, como, sei lá, a féria da esmola.

Se você fizer isso, Malafaia garante que o próprio Deus lhe conseguirá uma casa quitada.

Lula, Odebrecht, Camargo Corrêa e Malafaia. O interesse deles pela pobreza mostra que, por menos coisas que você tiver, sempre haverá alguém disposto a deixá-lo sem coisa alguma.

Não é por outro motivo que as histórias de Drácula fazem tanto sucesso. Estava lendo sobre a possível descoberta do túmulo de Vlad, o Empalador, em Nápoles. Vlad, como se sabe, é o personagem da vida real que inspirou Bram Stocker a criar o vampiro da ficção. O mundo se excita com tudo que cerca o homem e a lenda. É lógico: as pessoas reconhecem a história da civilização na história do velho conde. Ele é um vampiro, e vampiros sugam o sangue dos vivos para sobreviver. Eles extraem das pessoas tudo o que elas têm, até deixá-las secas.

Quando as nações foram constituídas, 10 mil anos atrás, do que elas se alimentaram para crescer? Da escravidão e da pilhagem das guerras, como vampiros dos derrotados. Esse sistema funcionou de forma mais ou menos amadora, até o surgimento da mais extraordinária e funcional máquina militar e administrativa da História, o Império Romano, formador do Ocidente. Os romanos sofisticaram a instituição da escravidão, a ponto de um nobre contar, às vezes, com 3 mil cativos. Três mil pescoços para um único par de presas.

Com a vitória do cristianismo, porém, a escravidão perdeu sua base filosófica. Como um povo cristão aceitaria escravizar outros povos, se todos os homens são irmãos, filhos do mesmo Pai? Foi então que os vampiros descobriram um homem que, para eles, era menos humano: o negro. E o sumo da vida do negro foi extraído até a última gota, sobretudo pelos dois grandes países da América, Brasil e Estados Unidos, igualados em sua sede de sangue africano.

E hoje, quem são as vítimas dos vampiros?

Os substitutos dos escravos da Antiguidade, dos servos da Idade Média e dos negros da era mercantilista, no século 21, são os chineses que trabalham quase de graça sob o tacão do Partido Comunista, para gáudio das empresas de todo o Globo. Além dos miseráveis de vastos nacos do mundo, que acreditam que serão salvos por Pais dos Pobres ou por pastores que falam em nome de Deus.


Se você está em busca de ajuda, preste atenção: quando um partido, um líder ou um sacerdote se apresentar como Salvador, fuja correndo: ele é um vampiro.

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