16 de junho de 2015 | N° 18195
LUÍS AUGUSTO FISCHER
GERÚNDIO
O assunto é Fernando Brant, mas tem uma tese antes, uma bem
triste: não tem como repassar as fortes experiências de uma geração para outra.
Não tem. Dá pra recontar, romancear, levar ao palco, cantar de novo, mas a
experiência mesmo não tem como.
(Ao mesmo tempo me lembrei do finado amigo Sérgio Jacaré Metz,
que num bilhete para uma amiga, que eu só vi após a morte dele, contou que
estava com uns gerúndios picando dentro do bolso. E o que se pode fazer com
eles, neste caso?)
O negócio é que morreu o Fernando Brant, que eu não conheci
ao vivo, mas era como se. Amigão, sorridente, daqueles especiais, que consegue
botar em palavras coisas que a gente compartilha lá no fundo da sensibilidade,
onde não há palavra que chegue.
Palavras parecendo óbvias, mas capazes de virar hinos para
desejos coletivos: Mas é preciso ter raça, é preciso ter sonho sempre. Amigo é coisa
pra se guardar do lado esquerdo do peito. Já não sonho, hoje faço com meu braço
o meu viver.
Palavras mais sutis: há um menino, há um moleque, morando
sempre no meu coração – toda vez que o adulto balança ele vem pra me dar a mão.
Palavras que viraram legenda de post no Facebook: Da janela lateral do quarto
de dormir, vejo uma igreja... Palavras narrativas: Ponta de areia, ponto final
da Bahia-Minas, estrada natural. Palavras de estímulo:
Vamos lá, viajar – e no ar livre, o corpo livre, aprender ou
mais tentar. Palavras para gente remota: Eu sou da América do Sul, eu sei, vocês
não vão saber – sou do ouro, eu sou vocês, sou do mundo, sou Minas Gerais. De
interrogação: O que vocês diriam dessa coisa que não dá mais pé? O que vocês
fariam pra sair dessa maré?
Fernando Brant teve a sorte de exercer a poesia numa forma
comunicativa como o poema escrito não consegue mais ser, a canção. E com que parcerias!
Fernando Brant, meu velho, bá, como eu queria que todas as
pessoas tivessem a felicidade de te ouvir – mas no gerúndio, enquanto isso, tá entendendo?
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