26 de junho de 2015 | N° 18206
MOISÉS MENDES
Nico e Nelson
Nunca tinha ouvido falar de Cristiano Araújo, o cantor que
morreu em acidente nesta semana e comoveu o país. Cristiano era famoso e alguns
nem sabiam. Dizem que Fátima Bernardes comentou a morte em seu programa, mas o
chamou de Cristiano Ronaldo. E um bom pedaço do Brasil havia parado por causa
do trauma com a morte do cantor.
Quando fez sucesso de crítica e de público com a peça
Vestido de Noiva, Nelson Rodrigues escreveu sobre o espanto de ter ficado
famoso sem que muita gente soubesse. Mas isso aconteceu em 1943.
A peça, diziam, revolucionou o teatro no Brasil. Nelson
escreveu que caminhava flutuando pelo centro do Rio, certo de que havia chegado
à fama. Mas os que caminhavam em volta o ignoravam como famoso. Nelson era
famoso no restrito círculo dos que iam ao teatro e liam notas culturais nos
jornais.
A fama de Cristiano reproduziu entre nós, 70 anos depois, o
assombro de Nelson, mas de outra forma. Como era possível que eu, você e a Fátima
Bernardes não conhecêssemos Cristiano? O cantor era aclamado em seu nicho, e
que nicho, da música sertaneja. E nós, os que circulamos por outros mundos, não
sabíamos de nada.
Só que Cristiano era um artista de massa, dos grandes públicos,
e Nelson era, então como autor de teatro, uma figura de redutos. Cristiano tinha
fama mesmo, Nelson tinha reputação.
E agora, trazendo essa questão um pouco mais para perto,
vamos falar de Antônio Augusto da Silva Fagundes. Nico era, claro, muito famoso.
E também tinha muita reputação.
Mas Nico foi candidato a vereador de Porto Alegre em 2012. Fez
1.164 votos e não se elegeu. A democracia oferece explicações variadas para o
reinado de um Eduardo Cunha e até a relevância de um Zé Agripino para as
liberdades.
Mas como explica que Nico, com fama e reputação, com as raízes
do nativismo, com seu esforço e talento para interpretar o Rio Grande, não
tenha sido eleito vereador?
Que mistério da política negou ao autor (com o irmão Bagre
Fagundes) do Canto Alegretense a chance de ser vereador? Por que o próprio
nativismo esnobou Nico? Ou nativista não vota em nativista?
Sei que há uma carreta de explicações, mas fica difícil de
entender. Nem sei se Nico morreu com esse desgosto ou se não dava bola pra isso.
Mas até os camoatins do Inhanduí devem ter achado estranho.
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