Mussak
Naquele dia a aula era sobre comportamento empresarial em épocas de instabilidade. O professor falava sobre mudanças na história, mudanças contemporâneas e sobre um caso especial de mudança, chamado crise. 
— Trata-se de uma situação em que as bases da economia encontram-se fragilizadas, e isso provoca uma reação psicológica nas pessoas e nas empresas, traduzida por incerteza, desconforto e medo — dizia ele enquanto traçava gráficos no quadro branco, mostrando que a crise pode ser resolvida ou agravada, dependendo da reação.
Os alunos acompanhavam com atenção inusual, provavelmente porque aquele assunto se referia a uma situação do momento. A crise estava na porta, e todos sentiam incerteza, desconforto e medo. Eram jovens executivos de vários setores, e muitos estavam cursando MBA custeado por suas empresas. 

O professor continuou, explicando que a crise pode ter origem interna ou externa. Entretanto — e ele insistiu de maneira enfática —, mesmo que a crise tenha sido de origem externa, os gestores (e quem não é) são responsáveis por ela, uma vez que vão ter de resolvê-la e, o mais importante, poderiam tê-la evitado ou minimizado seus efeitos. De repente, lançou mão de um recurso didático curioso:
— Se a crise tem uma virtude, é que ela é desconfortável. E, como gostamos do conforto, vamos nos mexer para voltar a ele. Vocês, por exemplo, estão sentados nessas cadeiras que, mesmo estofadas, tornam-se desconfortáveis com o tempo, não é verdade? Para evitar o desconforto, vocês se mexem, buscam variar as posições do corpo. 
Os alunos se deram conta de que o professor tinha razão, e todos se mexeram um pouco em suas cadeiras. A metáfora era óbvia e poderosa. 
— Se continuarmos na mesma posição, não vamos vencer a crise. Tempos diferentes exigem posturas diferentes. O que fazíamos até agora foi o que nos colocou na crise ou, pelo menos, não foi capaz de evitá-la. É hora de inovar.
O conceito tocou todos, que já pensavam em quais alternativas deveriam propor, quando o mestre concluiu:
— A maneira mais eficiente de gerir a crise é estar em movimento permanente, aprendendo, inovando e incorporando novas competências o tempo todo. Por favor, não esqueçam: na gestão e na carreira, acomodação é pecado mortal. 
* EUGÊNIO MUSSAK escreve sobre liderança e sobre o que está na cabeça do líder, ou deveria estar. É professor do MBA da Fundação Instituto de Administração (FIA) e consultor da Sapiens Sapiens