sábado, 20 de junho de 2015



20 de junho de 2015 | N° 18200
GIGANTES SOB INVESTIGAÇÃO

O ESQUEMA MAIS SOFISTICADO

PRESIDENTES DA ODEBRECHT E DA ANDRADE GUTIERREZ foram presos na 14ª fase da Operação Lava-Jato por suspeita de pagarem propinas no Exterior a ex-dirigentes da estatal. Justiça bloqueou R$ 20 milhões das contas dos investigados
Duas das maiores construtoras do Brasil, que até então haviam passado incólumes às ações mais drásticas da Polícia Federal e do Ministério Público Federal, foram alcançadas ontem pela 14ª fase da Operação Lava-Jato, denominada Erga Omnes. Foram presos os presidentes da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, e da Andrade Gutierrez (AG), Otávio Azevedo.

No total, foram cumpridos oito mandados de prisão preventiva e quatro de temporária, nove de condução coercitiva – somente para depoimento – e 38 de busca e apreensão em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Porto Alegre.

As duas construtoras teriam pago propina no Exterior a ex-dirigentes da Petrobras após a obtenção de contratos com a estatal. A PF e o MPF justificam que, em relação à Odebrecht e Andrade Gutierrez, foi preciso mais tempo para agir devido ao sistema “mais sofisticado” de pagamento de propina, que envolvia depósitos em contas secretas fora do país, principalmente na Suíça.

No caso da Odebrecht, pagamentos no Exterior teriam sido feitos aos ex-dirigentes da Petrobras Paulo Roberto Costa e Pedro Barusco, além de ao doleiro Alberto Youssef. Para fazer os depósitos, a Odebrecht contaria com os serviços de Bernardo Freiburghaus, que já havia trabalhado em bancos suíços e operou, naquele país, contas bancárias para que os dirigentes da Petrobras pudessem receber os valores.

A Justiça Federal de Curitiba, centro das investigações da Lava-Jato, emitiu mandado de prisão contra Bernardo, mas ele fugiu para a Suíça desde a detenção de Paulo Roberto Costa. Como tem nacionalidade suíça, não poderá ser extraditado. A empreiteira ainda fazia transferências por meio da Constructora Internacional Del Sur, no Panamá, de onde saíram recursos para contas fantasmas de Paulo Roberto Costa, Pedro Barusco e Renato Duque, também ex-diretor da Petrobras. A Del Sur foi dissolvida em agosto de 2014, no curso das investigações da Lava-Jato.

A Andrade Gutierrez, com apoio dos operadores Fernando Baiano e Mario Goes, igualmente utilizaria estratagemas sofisticados para fazer circular os valores de propina por obras na Petrobras. Ambos teriam empresas que receberiam recursos milionários da construtora, sem aparente prestação de serviço. Conforme a investigação, seria dinheiro destinado à corrupção. Uma empresa ligada à AG, a Zagope, transferiria recursos a Baiano e Goes, que os fazia chegar aos dirigentes da estatal do petróleo.

“Diferentemente das demais empreiteiras, há provas de que as duas em questão (Odebrecht e AG) adotaram modos mais sofisticados para a prática dos crimes, realizando o pagamento de propinas principalmente no Exterior e por meio de contas secretas que ainda se encontram a sua disposição, possibilitando a retomada da prática sem o conhecimento das autoridades públicas”, justificou o juiz federal Sergio Moro no despacho que decretou as prisões.

MENSAGENS ELETRÔNICAS SERVIRAM COMO PROVAS

Os presidentes das duas contrutoras foram comprometidos porque a investigação teria encontrado elementos que demonstram que eles tinham conhecimento do esquema de cartel e de propinas. Presidente da Camargo Corrêa – outra empreiteira investigada –, Dalton Avancini apresentou e-mail em que são copiados vários executivos, entre eles alguns das cúpulas da Odebrecht e da AG, para tratar da inclusão da empresa Alusa na licitação de prestação de serviços das obras da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco.

Na decisão, Sergio Moro cita que a Odebrecht teria pago propinas em 10 contratos com a Petrobras, incluindo serviços de terraplenagem no Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) e na Abreu e Lima e a construção do prédio-sede da Petrobras em Vitória (ES). A AG, segundo as delações premiadas, teria pago propina em seis empreeendimentos. Duas dessas intervenções ocorreram no Comperj.

No despacho, “considerando os valores milionários dos supostos crimes”, Moro determinou o bloqueio das contas de todos os investigados até R$ 20 milhões. Ao justificar as prisões, alegou que a permanência da atuação das empresas suspeitas em obras públicas, incluindo o recém-lançado pacote de concessões da União, pode ensejar a continuidade da corrupção.

*Com agências - carlos.rollsing@zerohora.com.br

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