15 de junho de 2015 | N° 18194
MOISÉS MENDES
O novo reacionário
Machado de Assis diria que no seu tempo já existiam muitos
conservadores, mas poucos reacionários. O que diria Machado se vivesse hoje,
com o reacionarismo desmesurado que se alastra pelo Brasil? Ser reacionário é uma
barbada. Ninguém precisa se habilitar a ser reacionário para produzir palpites
sobre costumes, economia, política. Basta ser reacionário e pronto.
Não se trata do conservador do tempo de Machado. O
conservador está muitos degraus acima dos subterrâneos do reacionário. O
conservador clássico é de outra estirpe.
É duro e inflexível em suas posições e contrapõe-se aos
discordantes com respeito e fleuma cerimoniosa. O conservador informa-se sobre
o que pretende comentar.
O novo reacionário, não. Ele é o ultraconservador agressivo
que ultrapassou os limites, porque não tem categoria para ser apenas
conservador.
Nunca antes tivemos tantos reacionários. Prosperam os
reacionários sem o estofo de uma base teórica mínima que dê algum lustro
enganoso ao seu reacionarismo.
O debate sobre a posse de armas, por exemplo, foi tomado
pelos reacionários. Entenda-se o medo de quem acha que um revólver pode lhe dar
segurança. Mas o reacionário vai além. Para ele, quem se posiciona contra a
liberação do porte generalizado de revólveres está ao lado dos bandidos. Porque,
dizem os reacionários, as quadrilhas estariam sendo preparadas pelo comunismo
para se apoderar do país. Os bandidos finalmente seriam politizados. E o cidadão
de bem estará sem armas para reagir.
O novo reacionário é capaz de ver um vídeo com beijos entre
gays, como o que foi produzido pela gurizada da produtora Pé de Coelho Filmes,
de Santa Cruz, só para se sentir ofendido. Não basta saber que o vídeo existe. Ele
quer ver o vídeo. O novo reacionário ofende nordestinos e haitianos e prega sem
constrangimentos o golpe – que chama de intervenção militar. E não aceita nem que
a presidente da República ande de bicicleta. Se Dilma inventar de andar de
skate, o novo reacionário pode ameaçar com a volta da marcha do impeachment de
São Paulo a Brasília, mesmo que tenha seis participantes.
Mas o problema não é o raciocínio reducionista e simplório
do novo reacionário. O ruim é que ele supera todos os chatos. O novo reacionário
é o detentor do troféu de Grande Mala do início do século 21.
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