15 de junho de 2015 | N° 18194
L. F. VERISSIMO
Estranho
A temporada teatral de 2014/2015 na Broadway foi a melhor de
todos os tempos, com o público lotando teatros, principalmente para ver
musicais, como nunca. A maior parte do público foi de turistas, e entre os
turistas estrangeiros, a maior parte foi de ingleses e, em segundo lugar – sério,
deu no New York Times –, brasileiros.
As duas estatísticas intrigam. Quase todos os grandes
sucessos da Broadway têm versões inglesas, e ninguém precisa sair de Londres
para vê-los. Em vez de terem que ir à Broadway, a Broadway vai até eles,
geralmente em produções comparáveis, em qualidade, às americanas.
Mas a Inglaterra é uma das potências econômicas do mundo, não
surpreende que tantos ingleses cruzem o Atlântico só para poderem dizer que
viram a versão original dos espetáculos. Mas que estranha potência é esse
Brasil, devem se perguntar os produtores americanos ao contabilizar seus
lucros, que pode mandar tantos dos seus cidadãos a Nova York para verem
musicais, quando as notícias que se tem de lá são de privação econômica e
panelaços contra o governo? Há uma discrepância aí, em algum lugar, devem
pensar os produtores. Mas que continuem vindo os brasileiros e nos trazendo
seus dólares, saiam de onde saírem.
O fato é que hoje não são só as estatísticas que representam
pouco, há uma crise de representatividade generalizada. Não é por nada que
partidos políticos se reestruturam em toda parte, para salvarem algum tipo de
coerência da confusão. Um exemplo é o PT, com suas várias correntes em luta
para definir uma identidade para o partido, ou resgatar uma identidade perdida.
Na França o partido do Sarkozy, a UMP, até mudou de nome,
agora é Republicains, enquanto os socialistas tentam salvar seu PS do desastre
François Hollande com outras lideranças e outros rumos. E na Inglaterra os
trabalhistas continuam tentando descobrir o que representam de diferente dos
conservadores no poder, que, por sua vez, também não sabem mais exatamente o
que são.
Brasileiros enchendo teatros em Nova York significaria que o
Brasil vai muito bem. Mas isto se qualquer coisa significasse alguma coisa.
ESQUECI
Devo estar com um escapamento de neurônios. Só isto explica
eu ter lembrado vários times do passado que disputariam com o atual Barcelona o
título de melhor da História e ter esquecido a Seleção Brasileira de 1970, de
Pelé, Gérson, Rivellino, Jairzinho e Tostão. Imperdoável.
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