09 de junho de 2015 | N° 18188
OLHAR GLOBAL | Luiz Antônio Araujo
Enfim, um profissional
Para
um veterano militante clandestino sob o franquismo, como Felipe González, a polícia
do presidente Nicolás Maduro não deve ter parecido muito assustadora. Em sua
turnê pela Venezuela, o ex-presidente do Estado espanhol não saiu do radar dos
policiais e dos agentes do Serviço Bolivariano de Inteligencia Nacional (Sebin).
González desembarcou em Caracas no domingo.
Embora
a maior parte de sua agenda esteja tomada por encontros com os distintos ramos
da oposição, o objetivo da viagem é mais ambicioso: deflagrar um processo de
reconciliação nacional que possibilite a libertação de presos políticos e, no
futuro, uma transição pacífica de governo.
– Passei
sem problema pela imigração, como qualquer cidadão comum – disse
despretensiosamente González ao jornal Folha de S.Paulo.
Para
o governo Maduro, a presença de uma personalidade como González em solo
venezuelano – o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso cogitou acompanhá-lo,
mas desistiu – é um selo ISO 9000 de qualidade democrática. Afinal, Bill
Clinton não pode circular livremente por Pyongyang, nem a Tony Blair é permitido
entrar no La Floridita de Havana e pedir um daiquiri – para citar apenas duas
das capitais que costumam ser comparadas com Caracas.
Mas,
por incrível que pareça, o osso mais duro de roer, para González, não reside no
Palácio Miraflores, e sim nas prisões e em residências comuns da Venezuela. Atende
pelo nome de oposição.
Desde
a subida do então presidente Hugo Chávez ao poder, em 1999, seus adversários
acostumaram-se a dialogar com personalidades como os ex-presidentes Jimmy
Carter, dos Estados Unidos, ou Oscar Arias, da Costa Rica. O saldo é modesto. Maculada
pelo apoio ao golpe de 2002, a
oposição esteve perto de vencer a eleição de 2013, mas desde então parece
indecisa entre o caminho institucional e diversas variantes de irredentismo. Agora,
pelo menos, seu caso está nas mãos de um profissional.
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