07
de junho de 2015 | N° 18186
MARTHA
MEDEIROS
Como tem que ser
Muitos
problemas seriam eliminados se optássemos pela maneira consagrada, a que sempre
funcionou: transparência e assertividade
Recebi
um e-mail da prefeitura avisando que de agora até abril de 2016 haverá a
construção de uma superciclovia cortando toda a área central da cidade. Eles
dizem que durante a primeira fase dos trabalhos serei avisada sobre quais ruas
devo evitar nas horas de pico e também serei comunicada quando houver algum
desvio.
Disseram
também que o transporte público não será afetado, mas poderá eventualmente
acontecer algum atraso nos horários previstos de chegada dos ônibus nas
estações. Por fim, divulgaram um site onde encontro uma animação em 3D
reproduzindo todo o trajeto da ciclovia, incluindo os cruzamentos e a
sinalização, assim como as datas de início e conclusão de cada trecho e
horários de atendimento por telefone para esclarecimento de dúvidas.
O
e-mail é da prefeitura de Londres. Cerca de dois anos atrás, passei um mês
estudando lá e comprei um Oyster Card, que é um cartão para transitar por
transporte público por toda a cidade. Fiquei cadastrada no mailing deles e
desde então recebo periodicamente as informações sobre o trânsito da capital
inglesa. Sei quais linhas de metrô e ônibus sofrerão atraso, quais serão as
alterações de rota nos feriados e nos períodos de obras, recebo pedido de
desculpas pelos transtornos e agradecimento pela minha cooperação.
A
cada vez que recebo um comunicado desses, lembro como é ser tratada como
cidadã. E penso: é assim que tinha que ser. Tudo. Tudo na vida. Não sou inimiga
da flexibilidade, há modos diversos de se administrar uma cidade, um
relacionamento, um trabalho, porém muitos problemas seriam eliminados se
optássemos pela maneira consagrada, a que sempre funcionou: transparência e
assertividade.
Como
é que tem que ser? Se te perguntam, responda. Se te emprestam, devolva. Sem
dinheiro, não compre. Se te dão, agradeça. Se te confiaram, cuide. Se te
agridem, afaste-se. Se te pagaram, entregue. Se cansou, pare. Se te
confidenciaram, silencie. Se te roubaram, acuse. Se colocou no mundo, crie. Se
contratou, pague. Se gostou, fique. Se não gostou, recuse. Se errou,
desculpe-se. Se acertou, repita. Se tem que fazer, faça. Se prometeu, cumpra.
Se vai atrasar, avise. Se te necessitam, ajude. Se você precisa, peça.
É
feito um relógio. Tic-tac, no ritmo da eficiência. Porém, as pessoas fogem
desse esquema porque acreditam que ficarão engessadas, que serão chamadas de
caretas ou que terão uma existência simplista. Que bobagem. Elas apenas
adiantarão seu lado a fim de ganhar tempo para se dedicarem à deliciosa
anarquia da vida, aquela que, aí sim, nunca teve tic-tac. Se gamar, invista. Se
sofrer, azar. Se der frio na barriga, celebre. Se vacilar, tente de novo. Se
parecer longe, vá igual. Se nunca fez, arrisque. Se der medo, vença-o. Se não
souber, invente. Se falhar, ria. Se encheu, viaje. Se fizer calor, praia. Se
calhar, Londres.
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